quarta-feira, 13 de maio de 2009

Cooperação e orientação continuam fortalecendo a América Latina


REFLEXÕES DE FIDEL

A luta que apenas começa

OS governos podem mudar, mas os instrumentos com que os converteram em colônia continuam a ser os mesmos.

Por um presidente com sentido ético nos Estados Unidos, houve, durante os 28 anos anteriores, três que cometeram genocídio e um quarto que internacionalizou o bloqueio.

A OEA foi instrumento desses crimes. Somente seu custoso aparelho burocrático toma a sério os acordos de sua CIDH. Nossa nação foi a última das colônias espanholas, após quatro séculos de ocupação e a primeira a libertar-se do domínio dos Estados Unidos, depois de seis décadas.

“A liberdade custa muito caro, e é preciso resignar-se a viver sem ela, ou decidir-se a comprá-la a seu preço”, ensinou-nos o Apóstolo da Nossa Independência.

Cuba respeita os critérios dos governos dos países irmãos da América Latina e do Caribe, que pensam de outra maneira, mas não deseja fazer parte dessa instituição.

Daniel Ortega, que proferiu um discurso valente e histórico em Porto Espanha, explicou ao povo de Cuba que os países independentes da África não exortaram as antigas potências coloniais da Europa a fazerem parte da Unidade Africana. É uma posição digna de ser levada em conta.

A OEA não pôde impedir que Reagan desatasse a guerra suja contra seu povo, minasse seus portos, recorresse ao tráfico de drogas para adquirir armas de guerra, com as quais financiou a morte, a invalidez, ou as lesões graves provocadas a dezenas de milhares de jovens num país tão pequeno como a Nicarágua.

Que fez a OEA para protegê-lo? Que fez para impedir a invasão a Santo Domingo, as centenas de milhares de pessoas assassinadas ou desaparecidas na Guatemala, os ataques da aviação, os assassinatos de proeminentes figuras eclesiásticas, as repressões contra o povo, as invasões a Granada e ao Panamá, o golpe de Estado no Chile, os torturados e desaparecidos nesse país, na Argentina, no Uruguai, no Paraguai e noutros lugares? Por acaso acusou alguma vez os Estados Unidos? Qual a sua avaliação histórica desses fatos?

Ontem, sábado, o jornal Granma publicou o que escrevi sobre o acordo da CIDH contra Cuba. Depois senti curiosidade por conhecer o que adotou contra a Venezuela. Era mais ou menos o mesmo lixo.

O acesso ao poder da Revolução Bolivariana foi diferente do de Cuba. Em nosso país, o processo político foi abruptamente interrompido por um arteiro golpe militar que foi promovido pelo governo dos Estados Unidos em 10 de março de 1952, poucas semanas antes das eleições gerais que deviam ser realizadas no dia 1º de junho desse mesmo ano. Em Cuba, mais uma vez, o povo não teve outra alternativa que se resignar. Os cubanos lutaram novamente, nesta oportunidade, o desfecho foi bem diferente. Quase sete anos mais tarde, a Revolução emergiu vitoriosa pela primeira vez na história.

Os combatentes revolucionários com um mínimo de recursos bélicos, mais de 90% dos quais foram arrebatados ao inimigo após 25 meses de guerra apoiados pelo povo, e na ofensiva final, uma greve geral revolucionária, venceram a tirania e assumiram o controle de todas suas armas e centros de poder. A Revolução vitoriosa converteu-se em fonte de direito como em qualquer outra época da história.

Na Venezuela, não aconteceu o mesmo. Chávez, militar revolucionário como outros em nosso hemisfério, chegou à presidência através das normas da Constituição burguesa estabelecida, como líder do Movimento V República, aliado a outras forças de esquerda. A Revolução e seus instrumentos ainda não tinham sido criados. Se tivesse triunfado o levante militar dirigido por ele, a Revolução na Venezuela possivelmente teria tomado outro rumo. Contudo, foi fiel às normas legais estabelecidas, que estavam já a seu alcance como via principal de luta. Desenvolveu o costume da consulta popular quantas vezes for necessário.

Levou a nova Constituição a plebiscito popular. Não demorou em conhecer os métodos do imperialismo e seus aliados da oligarquia para recuperar e conservar o poder.

O golpe de Estado de 11 de abril de 2002 foi a resposta contra-revolucionária.

O povo reagiu e levou-o novamente ao poder, quando, isolado e privado de comunicação, estava a ponto de ser eliminado pela direita, que o instava a assinar a renúncia.

Não cedeu, resistiu até que os próprios fuzileiros venezuelanos o libertaram e helicópteros da Força Aérea o levaram novamente para o Palácio de Miraflores, que já fora ocupado pelo povo e soldados do exército no Forte Tiuna, que se revoltaram contra os altos oficiais golpistas.

Naqueles dias, pensei que sua política se radicalizaria; no entanto, preocupado pela unidade e pela paz, no momento de maior força e apoio foi generoso e conversou com seus adversários na procura de cooperação.

A réplica do imperialismo e de seus cúmplices a essa atitude foi o golpe petroleiro. Talvez uma das mais brilhantes batalhas nesse período foi a que travou para fornecer combustível ao povo da Venezuela.

Tínhamos conversado muitas vezes, desde sua visita a Cuba em 1994, e falou na Universidade de Havana.

Era um homem verdadeiramente revolucionário, porém na medida em que tomava consciência da injustiça que reinava na sociedade venezuelana, seu pensamento foi se aprofundando, até chegar à convicção de que para a Venezuela não havia outra alternativa que uma mudança radical e total.

Conhece até os mais mínimos detalhes das ideias do Libertador, o qual admira profundamente.

Seus adversários compreendem que não é fácil vencer a tenacidade de um lutador que não descansa um instante. Podem decidir eliminá-lo fisicamente, mas os inimigos internos e externos sabem o que isso significaria para seus interesses. Podem existir doidos e fanáticos irracionais, no entanto, de tais perigos não estão isentos os líderes, os povos, nem a própria humanidade.

Pensando friamente, Chávez hoje é um adversário formidável do sistema capitalista de produção e do imperialismo. Tornou-se um verdadeiro especialista em muitos problemas fundamentais da sociedade humana. Vi-o nestes dias, quando inaugurou dezenas de serviços da saúde. É impressionante. Criticou com força o que acontecia com serviços vitais, como os da hemodiálise, que estavam nas mãos de centros privados e eram pagos pelo Estado. Os pobres estavam condenados à morte, se não tinham dinheiro. O mesmo acontecia com muitos outros serviços, com os quais hoje contam as novas instalações em centros intra-hospitalares, apoiados pelos equipamentos mais modernos.

Dirige com habilidade até os mais mínimos detalhes da produção nacional e os serviços sociais. Domina a teoria e a prática do socialismo da qual precisa seu país, e esforça-se por suas mais profundas convicções. Define o capitalismo tal como é; não faz caricaturas, mostra radiografias e imagens do sistema.

Trata-se de um peculiar e odioso conjunto de formas de exploração do trabalho humano, injusto, desigual, arbitrário. Não fala simplesmente do trabalhador, mostra-o pela televisão produzindo com suas mãos, mostrando sua energia, seus conhecimentos, sua inteligência, criando bens ou serviços imprescindíveis para os seres humanos; interessa-se por seus filhos, sua família, esposa ou esposo, familiares mais próximos, onde moram, que estudam, que fazem para aumentar seus conhecimentos, a idade, o vencimento, a futura aposentadoria, as grotescas mentiras sobre a propriedade que divulgam os imperialistas e capitalistas. Mostra hospitais, escolas, fábricas, crianças, fornece dados sobre as fábricas que são construídas na Venezuela, maquinarias, cifras de crescimento do emprego, recursos naturais, desenhos, mapas e notícias sobre o último achado de gás. A medida mais recente adotada pelo Congresso: a Lei de nacionalização das 60 principais empresas que prestam serviços todos os anos à PDVSA, a empresa estatal de petróleo, no valor de mais de US$8 bilhões. Não eram de propriedade privada, foram criadas pelos governos neoliberais da Venezuela com recursos que pertenciam à PDVSA.

Não tinha visto uma ideia tão claramente transformada em imagens e transmitida pela televisão. Chávez não só possui especial talento para captar e transmitir a essência dos processos; acompanha-o uma memória privilegiada; é difícil que se esqueça de uma palavra, uma frase, um verso, uma entoação musical, combina palavras que expressam conceitos novos. Fala de um socialismo que procura a justiça e a igualdade; “enquanto o colonialismo cultural continue vivo nas mentes, o velho não morre e o novo não nasce”. Mistura versos e frases eloquentes em artigos e cartas. Sobretudo, demonstra ser o líder político na Venezuela capaz de criar um partido, transmitir constantemente ideias revolucionárias a seus militantes e educá-los politicamente.

Enxerguei, sobretudo, os rostos dos capitães e tripulantes dos navios das empresas nacionalizadas; em suas palavras reflete-se o orgulho interior, a gratidão pelo reconhecimento, a segurança no futuro; os rostos de jubilosos jovens estudantes de economia que o nomearam padrinho da formatura que quase está a ponto de concluir sua carreira quando lhe diz que é necessário que mais de 400 deles vão para a Argentina, e que devem estar prontos para trabalhar no manejo das 200 novas fábricas do programa acertado com esse país, aonde serão enviados quando acabar o ano letivo para que se preparem nos processos de produção.

Com ele, estava Ramonet, admirado com o trabalho de Chávez. Quando, há cerca de oito anos, iniciamos nossa cooperação revolucionária com a Venezuela, ele estava no Palácio da Revolução fazendo-me inúmeras perguntas. O escritor conhece sobre o tema e espreme os miolos tentando adivinhar que será o que vai substituir o sistema capitalista de produção. A experiência venezuelana, certamente, enche-o de admiração. Sou testemunha de um singular esforço nesse sentido.

É uma batalha de ideias perdida de antemão pelo adversário, que não tem nada que oferecer à humanidade.

Não em vão a OEA tenta hipocritamente apresentá-lo como inimigo da liberdade de expressão e da democracia. Já quase decorreu meio século de que essas desprezíveis e hipócritas armas fracassaram diante da firmeza do povo cubano. Hoje, a Venezuela não está isolada, e conta com a experiência de 200 anos de excepcional história patriótica.

É uma luta que apenas começa em nosso hemisfério.



Fidel Castro Ruz- Granma Internacional, 10/05/09

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pequenos colombianos, vitimas

Pequenos colombianos, vitimas
O Mercado, não vê indigência

Seguidores

Arquivo do blog