segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Que a Globo Não Quer que a Gente Saiba

Brasília - Segunda , 31 de Outubro de 2011
Brasil

Paulo Henrique Amorim: PF poderia ter uma conversinha com a Magic Paula


Magic Paula foi convidada para ser uma das secretárias do Ministério do Esporte na gestão Agnelo Queiroz. Orlando Silva era Secretário também e cuidava da parte de Educação e Esportes. Magic Paula, de Esporte Olímpico. Magic Paula pediu a conta rápido. Aliás, pediu a conta por causa de uma prestação de contas. Ela foi a Barcelona numa missão oficial, na companhia do Ministro Queiroz.

Na hora de pagar a conta do hotel, soube que alguém muito poderoso, ligado ao esporte, tinha pago por ela.

Ao chegar a Brasília, já saturada de tantas irregularidades, resolveu usar a conta do hotel para pedir a conta.

Perguntou como fazia para devolver as diárias.

Foi um Deus nos acuda !

Devolver as diárias, onde já se viu uma coisa dessas ?

Se ela devolvia, os outros, também objeto da gentileza, tinham que devolver.

Magic Paula devolveu e foi embora do Ministério.

E deu uma entrevista a este ansioso blogueiro no programa “Edição de Notícias” , da TV Record.

Ali, ela contou também que recebeu a incumbência de promover um evento de esporte amador em Manaus.

Havia em cima da mesa do Ministro uma oferta de produzir o evento por R$ 7 milhões.

Proposta de alguém muito poderoso, ligado ao esporte.

Magic Paula pediu tempo e correu atras de patrocínios.

Voltou ao Ministério com uma alternativa: conseguiria realizar o evento por R$ 2 milhões.

Uma pena !

A proposta de R$ 7 milhões era irrecusável !

Quem são esses poderosos que rondam o Ministério do Esporte ?

Quantos poderosos sentaram praça no Ministério do Esporte na véspera da Copa e das Olimpíadas ?

Magic Paula, depois que saiu do Ministério, jamais voltou a ser entrevistada na Globo.

Logo na Globo, onde Armando Nogueira sobre ela e Hortência escreveu textos memoráveis.

Pois é, amigo navegante, bem que a Polícia Federal poderia ter uma conversinha com a minha colega Magic Paula, que está aqui em Guadalajara, e recuperou para este ansioso blogueiro o nome deste poderoso dirigente, tão querido no Ministério.

Quem será ?

Por que a Globo o protege ?

Paulo Henrique Amorim - Patria Latina -online

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ditadura na ONU: onde está a democracia?



Os votos de 186 nações não têm o mesmo peso que os votos dos EUA e Israel

O plenário da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou, nesta terça – feira (25), por 186 votos a favor e dois contra (Estados Unidos e Israel), e três abstenções (Ilhas Marshall, Micronésia e Palau), a Resolução que condena o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba, há quase meio século.
O documento exige, também, o imediato levantamento da medida considerada desrespeitosa aos princípios da Carta da ONU, entre eles a igualdade soberana dos países e a não intervenção e ingerência em seus assuntos internos. Também, a liberdade de comércio e navegação internacionais. A Líbia e a Suécia não votaram.

A decisão aprovada pela 20ª vez consecutiva demonstra que Washington – acompanhado por uma minoria subalterna – permanece isolado na sua política de violar o direito internacional e desrespeitar a soberania e autodeterminação dos povos.


"O dano econômico direto contra o povo cubano supera os 975 bilhões de dólares", disse o chanceler cubano Bruno Rodríguez, ao defender a resolução que condena o bloqueio e exige seu fim diante da Assembleia Geral reunida em Nova York.

Rodríguez lembrou que em 1991 e no ano seguinte foi incluída pela primeira vez a questão de eliminar o bloqueio contra Cuba, em um momento em que os Estados Unidos pretendiam, com "cruel oportunismo", apertar o cerco contra a ilha, após a queda do bloco soviético.

Naquele ano, a sessão ordinária aprovou por 59 votos a favor, três contra e 71 abstenções a primeira resolução condenando o bloqueio e cobrando seu levantamento. Desde então, a cada novo ano, a Assembleia aprova uma resolução intitulada "Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba".

"É inacreditável o fato de que, 20 anos depois, esta Assembleia continue considerando este assunto", afirmou Rodriguez, reiterando que "os Estados Unidos nunca ocultaram que seu objetivo é derrubar o governo revolucionário" cubano.

"Por que o governo Obama não se ocupa dos problemas dos EUA e deixa nós cubanos resolvermos em paz e sossegados os nossos"?, questionou.

De acordo com o chancelar a condenação ao bloqueio já é um dos temas tradicionais na Assembleia Geral, "que reúne os pronunciamentos mais reiterados, com o apoio mais contundente e esmagador, o que mostra mais claramente o incômodo isolamento do país agressor e a resistência heroica de um povo que se nega a ceder os seus direitos soberanos".

Segundo Bruno Rodriguez, o que os Estados Unidos querem que Cuba mude, não será transformado. "O governo de Cuba permanecerá o governo do povo, pelo povo e para o povo. Nossas eleições não serão leilões. Não teremos campanhas eleitorais de 4 bilhões de dólares, nem um Parlamento com o apoio de 13% dos eleitores. Não teremos elites políticas corruptas separadas do povo. Continuaremos a ser uma verdadeira democracia e não uma plutocracia. Defenderemos o direito à informação verdadeira e objetiva", discursou.

Rodríguez afirmou ainda que os "vínculos familiares e o limitado intercâmbio cultural, acadêmico e científico entre os EUA e Cuba já demonstram como positiva seria a expansão destas ligações para o benefício dos dois povos, sem as restrições e limitações impostas por Washington".

"A proposta de Cuba para avançar no sentido da normalização das relações e ampliar a cooperação bilateral em diversas áreas continua", afirmou, agredecendo o apoio de todos os países que, nesses 20 anos, têm votado a favor do fim do bloqueio.

Fontes : agências e consulado de Cuba no Brasil

sábado, 22 de outubro de 2011

Longa Vida aos Verdadeiros Partidos Comunistas

PCB e PCU FIRMAM DECLARAÇÃO CONJUNTA

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Comunista de Uruguai (PCU), reunidos em Montevidéu, nos marcos da expressiva e combativa comemoração do 91º aniversário do PCU, e após passarem em revista seus pontos de vista sobre a conjuntura internacional, em particular a da América Latina, declaram:
1 – Com o agravamento da crise sistêmica do capitalismo, o imperialismo torna-se cada vez mais agressivo, mentindo e manipulando fatos para impor guerras contra os países que não lhe são alinhados, para saquear suas riquezas naturais e manter a hegemonia. No mundo capitalista hoje, há uma tendência à fascistização, à repressão às lutas populares e à retirada de direitos políticos, sociais e trabalhistas, contra a qual os trabalhadores precisam insurgir-se com unidade e firmeza no âmbito mundial.
2 – No momento, a ofensiva do consórcio EUA/OTAN se concentra no Norte da África e no Oriente Médio, centrada nos países que, em graus diferentes, oferecem resistência aos ditames do imperialismo.
3 – Nossos Partidos expressam solidariedade internacionalista ao povo líbio, vítima de uma “rebeldia” midiática, apoiada por forças da OTAN, e aos povos sírio, libanês e iraniano, alvos atuais da ofensiva midiática que tem como objetivo invadir seus países para colocar no poder governos fantoches, com vistas à mudança do quadro geopolítico da região e ao controle de suas imensas fontes de energia. Assim como os iraquianos e afegãos, esses povos resistirão, recorrendo a todas as formas de luta. Destacamos, em especial, a emblemática luta do sofrido povo palestino contra o sionismo e pela criação do seu Estado, pela devolução dos territórios ocupados, pelo fim do “Muro da Vergonha” e dos assentamentos israelenses, pelo retorno dos exilados e pela libertação dos milhares de presos políticos.
4 – Nossos dois Partidos há décadas se identificam com a Revolução Cubana, solidarizando-se com seu povo, seu partido e sua revolução, que seguirá no caminho do socialismo. Reiteramos a imediata exigência da libertação dos 5 Heróis Cubanos.
5 – Na América Latina em geral, saudamos os heterogêneos processos de mudanças, que só transitarão para um caminho socialista se avançarem a organização e a mobilização popular, sobretudo entre os trabalhadores e a juventude, e se fortalecermos formas de exercício do poder popular e um processo de transformações de instâncias do estado burguês.
6 – Além da solidariedade aos processos de mudança mais avançados, como os que se dão na Venezuela, na Bolívia e no Equador, não nos são indiferentes as disputas que se dão em outros países contra a direita e o imperialismo.
7 – Nossos Partidos – que se comprometem a incentivar a unidade dos partidos comunistas e revolucionários - coincidem em destacar duas importantes lutas em nosso continente, que merecem amplas campanhas específicas:
- a retirada de todas as tropas estrangeiras do Haiti e sua substituição por profissionais que possam contribuir para a reconstrução do país;
- o fortalecimento do movimento Latino-Americanos Pela Paz na Colômbia, que tem como objetivo a busca de uma solução política para um conflito militar que só poderá ser resolvido com um paz democrática, com justiça social e econômica, através de negociações que pressupõem o reconhecimento da insurgência como organização política beligerante.
8 – O PCB valoriza o honroso convite que recebemos do PCU, para participar das comemorações do seu 91º aniversário. Pudemos constatar, em reuniões com autoridades públicas ligadas ao PCU e com sua direção, os avanços sociais e políticos que o país experimenta nestes sete anos de governo da Frente Ampla, em meio a naturais disputas políticas. Junto com todas as demais delegações presentes ao evento, a delegação do PCB teve a oportunidade de dialogar com os dirigentes do sindicato nacional único dos metalúrgicos e participar de um ato de solidariedade aos trabalhadores de sua base, saudando-os, em uma visita a uma das dezenas de fábricas ocupadas pelo vigoroso movimento grevista que está em curso.
9 - Finalmente, os dois Partidos manifestam a emoção e a alegria por este reencontro, que renderá muitos frutos, lembrando o fato de que o PCU e o PCB são responsáveis pela vida de milhares de comunistas uruguaios e brasileiros que, durante as ditaduras em nossos países, atravessavam nossa fronteira comum, reciprocamente se entregando aos cuidados de mãos camaradas, carinhosas e internacionalistas que se estendiam em solidariedade militante.
Montevidéu, 17 de outubro de 2011

PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO PARTIDO COMUNISTA URUGUAIO
Ivan Pinheiro Eduardo Lorier
Secretário Geral Secretário Geral

Membros dos Comitês Centrais:
Oneider Vargas (PCB); Ana Vignoli e Daniel Coira (PCU)

-- Veja a Página do PCB – www.pcb.org.br Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Quem Será Agora a Bola da Vez ?

KHADAFI MORREU COMBATENDO COM DIGNIDADE E COERÊNCIA

Miguel Urbano Rodrigues



A foto divulgada pelos contra-revolucionários do CNT elimina dúvidas: Muamar Khadafi morreu.

Notícias contraditórias sobre as circunstâncias da sua morte correm o mundo, semeando confusão. Mas das próprias declarações daqueles que exibem o cadáver do líder líbio transparece uma evidência: Khadafi foi assassinado.

No momento em que escrevo, a Resistência líbia ainda não tornou pública uma nota sobre o combate final de Khadafi. Mas desde já se pode afirmar que caiu lutando.

A midia a serviço do imperialismo principiou imediatamente a transformar o acontecimento numa vitória da democracia, e os governantes dos EUA e da União Europeia e a intelectualidade neoliberal festejam o crime, derramando insultos sobre o último chefe de Estado legitimo da Líbia.

Essa atitude não surpreende, mas o seu efeito é oposto ao pretendido: o imperialismo exibe para a humanidade o seu rosto medonho.

A agressão ao povo da Líbia, concebida e montada com muita antecedência, levada adiante com a cumplicidade do Conselho de Segurança da ONU e executada militarmente pelos EUA, a França e a Grã Bretanha deixará na História a memória de uma das mais abjectas guerras neocoloniais do início do século XXI.

Quando a OTAN começou a bombardear as cidades e aldeias da Líbia, violando a Resolução aprovada sobre a chamada Zona de Exclusão aérea, Obama, Sarkozy e Cameron afirmaram que a guerra, mascarada de «intervenção humanitária», terminaria dentro de poucos dias. Mas a destruição do país e a matança de civis durou mais de sete meses.

Os senhores do capital foram desmentidos pela Resistência do povo da Líbia. Os «rebeldes», de Benghazi, treinados e armados por oficiais europeus e pela CIA, pela Mossad e pelos serviços secretos britânicos e franceses fugiam em debandada, como coelhos, sempre que enfrentavam aqueles que defendiam a Líbia da agressão estrangeira.

Foram os devastadores bombardeamentos da OTAN que lhes permitiram entrar nas cidades que haviam sido incapazes de tomar. Mas, ocupada Tripoli, foram durante semanas derrotados em Bani Walid e Sirte, baluartes da Resistência.

Nesta hora em que o imperialismo discute já, com gula, a partilha do petróleo e do gás libios, é para Muamar Khadafi e não para os responsáveis pela sua morte que se dirige em todo o mundo o respeito de milhões de homens e mulheres que acreditam nos valores e princípios invocados, mas violados, pelos seus assassinos.

Khadafi afirmou desde o primeiro dia da agressão que resistiria e lutaria com o seu povo ate à morte.

Honrou a palavra empenhada. Caiu combatendo.

Que imagem dele ficará na História? Uma resposta breve à pergunta é hoje desaconselhável, precisamente porque Muamar Khadafi foi como homem e estadista uma personalidade complexa, cuja vida reflectiu as suas contradições.

Três Khadafis diferentes, quase incompatíveis, são identificáveis nos 42 nos em que dirigiu com mão de ferro a Líbia.

O jovem oficial que em 1969 derrubou a corrupta monarquia Senussita, inventada pelos ingleses, agiu durante anos como um revolucionário. Transformou uma sociedade tribal paupérrima, onde o analfabetismo superava os 90% e os recursos naturais estavam nas mãos de transnacionais americanas e britânicas, num dos países mais ricos do mundo muçulmano. Mas das monarquias do Golfo se diferenciou por uma politica progressista. Nacionalizou os hidrocarbonetos, erradicou praticamente o analfabetismo, construiu universidades e hospitais; proporcionou habitação condigna aos trabalhadores e camponeses e recuperou para uma agricultura moderna milhões de hectares do deserto graças à captação de águas subterrâneas.

Essas conquistas valeram-lhe uma grande popularidade e a adesão da maioria dos líbios. Mas não foram acompanhadas de medidas que abrissem a porta à participação popular. O regime tornou-se, pelo contrário, cada vez mais autocrático. Exercendo um poder absoluto, o líder distanciou-se progressivamente nos últimos anos da política de independência que levara os EUA a incluir a Líbia na lista negra dos estados a abater porque não se submetiam. Bombardeada Tripoli numa agressão imperial, o país foi atingido por duras sanções e qualificado de «estado terrorista».

Numa estranha metamorfose surgiu então um segundo Khadafi. Negociou o levantamento das sanções, privatizou empresas, abriu sectores da economia ao imperialismo. Passou então a ser recebido como um amigo nas capitais europeias. Berlusconi, Blair, Sarkozy, Obama ,Sócrates receberam-no com abraços hipócritas e muitos assinaram acordos milionarios , enquanto ele multiplicava as excentricidades, acampando na sua tenda em capitais europeias.

Na última metamorfose emergiu com a agressão imperial o Khadafi que recuperou a dignidade.

Li algures que ele admirava Salvador Allende e desprezava os dirigentes que nas horas decisivas capitulam e fogem para o exílio.

Qualquer paralelo entre ele e Allende seria descabido. Mas tal como o presidente da Unidade Popular chilena, Khadafi, coerente com o compromisso assumido, morreu combatendo. Com coragem e dignidade.

Independentemente do julgamento futuro da História, Muamar Khadafi será pelo tempo afora recordado como um herói pelos líbios que amam a independência e liberdade. E também por muitos milhões de muçulmanos.

A Resistência, aliás, prossegue, estimulada pelo seu exemplo.

Vila Nova de GAIA, no dia da morte de Muamar Khadafi

--
Veja a Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Os mortos que nunca morrem

Che Guevara e os mortos que nunca morrem
Diz Eduardo Galeano, que conheceu o Che Guevara: ele foi um homem que disse exatamente o que pensava, e que viveu exatamente o que dizia. Assim seria ele hoje. Já não há tantos homens talhados nessa madeira. Aliás, já não há tanto dessa madeira no mundo. Mas há os mortos que nunca morrem. Como o Che. E, dos mortos que nunca morrem, é preciso honrar a memória, merecer seu legado, saber entendê-lo. Não nas camisetas: nos sonhos, nas esperanças, nas certezas. Para que eles não morram jamais. O artigo é de Eric Nepomuceno.
Eric Nepomuceno
No dia em que executaram o Che Guevara em La Higuera, uma aldeola perdida nos confins da Bolívia, Julio Cortázar – que na época trabalhava como tradutor na Unesco – estava em Argel. Naquele tempo – 9 de outubro de 1967 – as notícias demoravam muito mais que hoje para andar pelo mundo, e mais ainda para ir de La Higuera a Argel.

Vinte dias depois, já de volta a Paris, onde vivia, Cortázar escreveu uma carta ao poeta cubano Roberto Fernández Retamar contando o que sentia: “Deixei os dias passarem como num pesadelo, comprando um jornal atrás do outro, sem querer me convencer, olhando essas fotos que todos nós olhamos, lendo as mesmas palavras e entrando, uma hora atrás da outra, no mais duro conformismo... A verdade é que escrever hoje, e diante disso, me parece a mais banal das artes, uma espécie de refúgio, de quase dissimulação, a substituição do insubstituível. O Che morreu, e não me resta mais do que o silêncio”.

Mas escreveu:

Yo tuve un hermano
que iba por los montes
mientras yo dormía.
Lo quise a mi modo,
le tomé su voz
libre como el agua,
caminé de a ratos
cerca de su sombra.
No nos vimos nunca
pero no importaba,
mi hermano despierto
mientras yo dormía,
mi hermano mostrándome
detrás de la noche
su estrella elegida.

A ansiedade de Cortázar, a angústia de saber que não havia outra saída a não ser aceitar a verdade, a neblina do pesadelo do qual ninguém conseguia despertar e sair, tudo isso se repetiu, naquele 9 de outubro de 1967, por gente espalhada pelo mundo afora – gente que, como ele, nunca havia conhecido o Che.

Passados exatos 44 anos da tarde em que o Che foi morto, o que me vem à memória são as palavras de Cortázar, o poema que recordo em sua voz grave e definitiva: “Eu tive um irmão, não nos encontramos nunca mas não importava, meu irmão desperto enquanto eu dormia, meu irmão me mostrando atrás da noite sua estrela escolhida”.

No dia anterior, 8 de outubro de 1967, um Ernesto Guevara magro, maltratado, isolado do mundo e da vida, com uma perna ferida por uma bala e carregando uma arma travada, se rendeu. Parecia um mendigo, um peregrino dos próprios sonhos, estava magro, a magreza estranha dos místicos e dos desamparados. Foi levado para um casebre onde funcionava a escola rural de La Higuera. No dia seguinte foi interrogado. Primeiro, por um tenente boliviano chamado Andrés Selich. Depois, por um coronel, também boliviano, chamado Joaquín Zenteno Anaya, e por um cubano chamado Félix Rodríguez, agente da CIA. Veio, então, a ordem final: o general René Barrientos, presidente da Bolívia, mandou liquidar o assunto.

O escolhido para executá-la foi um soldadinho chamado Mario Terán. A instrução final: não atirar no rosto. Só do pescoço para baixo. Primeiro o soldadinho acertou braços e pernas do Che. Depois, o peito. O último dos onze disparos foi dado à uma e dez da tarde daquela segunda-feira, 9 de outubro de 1967. Quatro meses e 16 dias antes, o Che havia cumprido 39 anos de idade. Sua última imagem: o corpo magro, estendido no tanque de lavar roupa de um casebre miserável de uma aldeola miserável de um país miserável da América Latina. Seu rosto definitivo, seus olhos abertos – olhando para um futuro que ele sonhou, mas não veria, olhando para cada um de nós. Seus olhos abertos para sempre.

Quarenta e quatro anos depois daquela segunda-feira, o homem novo sonhado por ele não aconteceu. Suas idéias teriam cabida no mundo de hoje? Como ele veria o que aconteceu e acontece? O que teria sido dele ao saber que se transformou numa espécie de ícone de sonhos românticos que perderam seu lugar? Haveria lugar para o Che Guevara nesse mundo que parece se esfarelar, mas ainda assim persiste, insiste em acreditar num futuro de justiça e harmonia? Um lugar para ele nesses tempos de avareza, cobiça, egoísmo?

Deveria haver. Deve haver. O Che virou um ícone banalizado, um rosto belo estampado em camisetas. Mas ele saberia, ele sabe, que foi muito mais do que isso. O que havia, o que há por trás desse rosto? Essa, a pergunta que prevalece.

O Che viveu uma vida breve. Passaram-se mais anos da sua morte do que os anos da vida que coube a ele viver. E a pergunta continua, persistente e teimosa como ele soube ser. Como seria o Che Guevara nesses nossos dias de espanto? Pois teria sabido mudar algumas idéias sem mudar um milímetro de seus princípios.

Diz Eduardo Galeano, que conheceu o Che Guevara: ele foi um homem que disse exatamente o que pensava, e que viveu exatamente o que dizia.

Assim seria ele hoje.

Já não há tantos homens talhados nessa madeira. Aliás, já não há tanto dessa madeira no mundo. Mas há os mortos que nunca morrem. Como o Che.

E, dos mortos que nunca morrem, é preciso honrar a memória, merecer seu legado, saber entendê-lo. Não nas camisetas: nos sonhos, nas esperanças, nas certezas. Para que eles não morram jamais. Como o Che.

domingo, 9 de outubro de 2011

Aos 44º Ano de Morte del Che Guevara, gritamos! Comandante Che PRESENTE!

Queremos que sejam como CHE

Se queremos expressar como aspiramos que sejam nossos
combatentes revolucionários, nossos militantes, nossos homens,
devemos dizer sem vacilação de nenhuma índole: que sejam como Che!
Se queremos expressar como queremos que sejam os homens das futuras
gerações, devemos dizer: que sejam como Che! Se queremos dizer
como desejamos que se eduquem nossas crianças, devemos dizer sem
vacilar: queremos que se eduquem com o espírito de Che! Se
queremos um modelo de homem, um modelo de homem que não pertence a
este tempo, um modelo de homem que pertence ao futuro, de coração
digo que esse modelo sem uma só mancha em sua conduta, sem uma só
mancha em sua atitude, sem uma só mancha em sua atuação, esse modelo
é Che! Se queremos expressar como desejamos que sejam nossos filhos,
devemos dizer com todo o coração de veementes revolucionários:
QUEREMOS QUE SEJAM COMO CHE!

(Discurso de Fidel no velório solene em memória do Comandante
Ernesto Che Guevara na Plaza de la Revolución, Havana, 18 de
outubro de 1967).

Galeria fotográfica: Che na Revolução Cubana 1955-1966
http://www.cubadebate.cu/fotorreportajes/2009/10/08/galeria-ernesto-che-guevara-revolucion-cubana-1955-1966-fotos/

Canções dedicadas a CHE (+ vídeos)

http://www.cubadebate.cu/noticias/2009/10/08/canciones-dedicadas-al-che-videos/

Centro de Estudos Che Guevara
http://www.centroche.co.cu/

domingo, 2 de outubro de 2011

Os que nunca são vistos

Escravidão e capitalismo, uma relação estranha e familiar

Têm sido constantes as denúncias de escravização de trabalhadores no país – é disso que se trata, e não do “emprego de mão-de-obra escrava”, pois nunca se empregam apenas mãos, nem há escravos que são empregados pelos capitalistas, como alertam os professores Mário Maestri e Florence Carboni em A linguagem escravizada (ed. Expressão Popular). A diminuição das operações de fiscalização do Ministério do Trabalho na Era Lula (http://www.brasildefato.com.br/node/6451 ) faz com que só não haja mais espaço no noticiário cotidiano por causa da falta de atratividade do assunto para a mídia corporativa. Interessa-a muito mais a “crise” dos mercados, da moeda, da Europa, dos EUA, e tantas outras que acabam reduzindo os holofotes da pujança da economia capitalista do Brasil (como da Rússia, da Índia e da China, ou seja, do quarteto fantástico chamado BRIC) e, muito mais ainda, a redução dos holofotes dos imensos custos sociais dessa pujança. Que o digam aqueles que serão diretamente afetados pela usina de Belo Monte, pela estrada no Tipnis na Bolívia e pelas remoções para a Copa.

Recentemente circulou a informação de que alguns usineiros de São Paulo têm estimulado o uso de crack pelos cortadores de cana, o que lhes renderia jornadas de 14 horas de um trabalho que já é, de qualquer modo, absolutamente mortificante. Mas se o propósito deles é “socialmente legítimo” – o aumento da produtividade, o crescimento da economia, produção de biocombustível, maior arrecadação de impostos e geração de empregos, etc. – por que motivo os patrões se envergonham tanto e tergiversam diante dessa dura realidade, a de que o trabalhador só lhes interessa enquanto sujeito que possa despender o máximo de sua capacidade laboral durante o tempo de trabalho, e que “todo o resto” lhes é indiferente? (com exceção, é claro, dos investimentos feitos em prol do aumento ou qualificação dessa capacidade de trabalho, que depois retorna para...)

Em O Capital, Karl Marx, quando analisa a acumulação primitiva, cita o trecho de um livro de T. J. Duning de 1860 (“Sindicatos e Greves”) que nos aponta para essa duplicidade entre pudores e falta de pudores dos investimentos capitalistas.

O capital foge do tumulto e da discussão e é tímido por natureza. É bem verdade, mas não totalmente. O capital tem horror à ausência ou pequena quantidade de ganhos, da mesma forma como a natureza tem horror ao vácuo. Com um ganho satisfatório, o capital se encoraja. Assegurem-lhe 10% e ele irá onde for; com 20%, ele se anima; com 50%, ele se torna positivamente temerário; com 100%, passa por cima de todas as leis humanas; com 300%, não há crime a que ele não se arrisque, inda que sob a ameaça do patíbulo [forca]. Quando o tumulto e a discussão podem trazer lucros, ele os fomentará. A prova disso: o contrabando e a escravização dos negros.

As imensas fortunas, que se mostram assépticas, que se creem resultado de especulação, sorte, herança, fusão, etc., todas elas são a capitalização dessas violentas extorsões passadas e cotidianas, que nunca ficam muito tempo na mão dos pequenos e médios proprietários – sendo que estes sempre correrão o risco de terminarem como o coronel Moraes de Deus e o Diabo na Terra do Sol (filme antológico de Glauber Rocha), morto pelo facão de Manuel, o vaqueiro extorquido. Como escreve a historiadora Virgínia Fontes em seu livro O Brasil e o capital-imperialismo (ed. UFRJ), a atual concentração de capital é tão faraônica que os seus proprietários são incapazes eles mesmos de supervisionarem a sua aplicação, de modo que “o capital, essa massa de trabalho morto acumulado sob a forma de dinheiro, controla seus controladores”. Desse modo, a extorsão de trabalho é cada vez mais um fenômeno social, distribuído entre vários agentes intermediários que supervisionam o emprego dos capitais nas atividades produtivas.

Há, no entanto, outras formas cotidianas e “democráticas” de extorsão: a da pessoalidade. Em sua apresentação no V Seminário de Estudos em Análise do Discurso (SEAD), poucos dias atrás, a professora Solange Mittmann, da UFRGS, nos mostrou que vivenciamos um processo ideológico de denegação de nossa memória escravista. Tanto em textos jurídicos (como o artigo 149 do Código Penal, que fala em “redução à condição análoga a de escravo”) quanto em tuitadas politicamente incorretas (“Acabei de sair da Zara e tenho de confessar que as crianças escravas estão fazendo um ótimo trabalho”), a língua vem dando nos dentes, mostrando que os trabalhadores escravizados também sofrem uma despessoalidade e até uma contra-pessoalidade – usando as expressões de Mittmann. Vê-se que entre a realidade do mercado de trabalho e os direitos sociais existe um abismo, e que a escravidão é algo ao mesmo tempo estranho e familiar ao capitalismo, com seus sujeitos livres, liberados, despojados, de modo que possam ser – por “umas horinhas” do dia, vá lá – nada mais do que coisas que se entregam por si mesmas.

Texto de Rodrigo Fonseca

Pequenos colombianos, vitimas

Pequenos colombianos, vitimas
O Mercado, não vê indigência

Seguidores