sexta-feira, 8 de julho de 2011

Frida Kahlo, a frente do seu tempo.

Pregos pelo teu corpo
/ Para Frida Kahlo

Camila Marins
10/05/2008
teu cigarro suplicava
ossos sangue e carne
teu esqueleto pregado
crucificada na cama.
A insurreição, sonhava com camaradas

teu corpo: cárcere privado
e na borda de um copo de tequila
teu vestido pendurado em um varal

embaixo de tua cama
borboletas exangües
ensaiavam coreografias
com o ranger de ossos

surrealista, chamaram-na
não!
tua cama, tua redoma
tua cama, tua redenção
grite aos ouvidos bêbados:
“Yo no pinto sueños... Pinto mi realidad”

seios presos em gesso
aquele branco tela sufocante
tua cintura esmagada
que gritavam sussurros de Trotski

e na cama
caquinhos formavam o belo
teus ossos te estupraram
pedaços de teu corpo entre os lençóis
Emoldura tua cama, Frida!

ninguém conhece tua dor
imensidão urdida por urubus
apenas esmola ao diabo
todos os dias traga migalhas
migalhas oferecidas por moribundos

enche teu peito de aflição
e brinda tua dor
cálice de teu auto-retrato

nada pior
do que levar uma surra
de sua própria lápide
enfim, teu esqueleto é liberto
queima, queima
e dissipa suas vísceras
entre cores, pincéis e telas

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