sexta-feira, 27 de maio de 2011

Estamos chegando lá

De frente para a América Latina



Cresce interesse por contribuições inovadoras da região e do Brasil. Mas em nossas universidades, muitos ainda se aferram ao eurocentrismo…

Por Felipe Amin Filomeno*, colaborador de Outras Palavras e editor de blog pessoal

A colonização ibérica deixou um legado comum aos povos da América Latina que justifica seu entendimento como unidade cultural, geopolítica e econômica dotada de significado real e não apenas de sentido ideológico. Entretanto, parte deste legado é uma mentalidade eurocêntrica que nos cega para os laços que conectam nós, brasileiros, a nossos hermanos do restante do subcontinente. Esta cegueira debilita nossa capacidade de solucionar nossos problemas e de perceber o quanto ela mesma é anacrônica diante da posição conjuntural da América Latina no sistema mundial.

Não surpreende, portanto, que o Brasil, ou qualquer país latino-americano, seja um dos piores lugares do mundo para quem deseja estudar a América Latina como um todo. São pouquíssimos, na região, centros acadêmicos que oferecem programas de estudos latino-americanos. No Brasil, temos o PROLAM da USP, o IELA da UFSC, entre poucos outros. Recentemente, o governo federal criou a UNILA – Universidade da Integração Latino-Americana. Localizada em Foz do Iguaçu, na fronteira tripla de Brasil, Argentina e Paraguai, a UNILA é uma iniciativa pioneira voltada à formação de uma comunidade regional de pesquisadores e estudantes dedicados ao estudo da América Latina. A universidade é bilíngüe (Português e Espanhol) e parte do corpo discente vem de países vizinhos. Vem somar a outros esforços de integração do continente em nível acadêmico, como o CLACSO e a FLACSO (Conselho e Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais).

Desse modo, pouco a pouco, vamos corrigindo um eurocentrismo incoerente não só com a realidade histórica deste conjunto de países, mas com sua posição na conjuntura atual do sistema capitalista mundial. Certos processos transnacionais contemporâneos, que encompassam e também são constituídos em países latino-americanos, tornam necessário o estudo da América Latina enquanto região. Talvez, o principal desses processos seja a re-localização dos centros de acumulação de capital em escala mundial, que se transferem do Eixo Atlântico-Norte para a Ásia. Este processo tem várias implicações para a América Latina. A abundância de dólares no mundo associada à crise nos EUA permite a países como o Brasil deter maiores reservas cambiais, habilitando-o a condicionar mudanças na governança das finanças mundiais. O commodity boom associado ao crescimento da China proporciona rendas extraordinárias a exportadores latino-americanos, as quais têm sido gerenciadas e aplicadas de maneiras diversas por cada país. Para a compreensão dessas transformações, a perspectiva transnacional, regional e comparativa é a mais adequada.

Curiosamente, o eurocentrismo acadêmico existente na América Latina é incoerente também com a percepção (e expectativa) que estrangeiros têm de nós. Com base em experiência própria como acadêmico brasileiro em instituição universitária norte-americana, posso afirmar que professores e estudantes americanos não têm o menor interesse em saber o que conhecemos sobre a Revolução Francesa ou sobre a Independência dos EUA. Conosco, eles querem aprender sobre o movimento zapatista, sobre a bossa nova e Evo Morales (e vai passar vergonha quem só souber coisas sobre o Brasil). Nos syllabi de cursos sobre teorias do desenvolvimento em universidades americanas, não se mencionam contribuições de economistas brasileiros ou argentinos à teoria econômica ortodoxa (pois isso eles podem achar em Chicago), mas quase sempre há um par de leituras obrigatórias sobre a teoria da dependência.

Este desejo dos americanos no que é genuíno do subcontinente é justificado. A América Latina, crescentemente, vem sendo reconhecida não mais como problema, mas como fonte de inovações em políticas públicas e mobilização social. Mesmo expoentes do pensamento conservador, como Francis Fukuyama (autor de O Fim da História), já reconhecem, por exemplo, que a América Latina é seio de “pensamento inovador em política social” e o Brasil, em particular, exemplo de uma “nova política industrial” no pós-crise, capitaneada pelo BNDES. Conforme observado por David Harvey, pensador marxista da City University of New York, olhando para a forma como os EUA e a União Européia têm reagido contra a crise econômica mundial, vemos uma re-edição das políticas de austeridade fiscal que transferem o ônus da crise para grupos sociais desprivilegiados sob hegemonia das altas finanças. Na América Latina é que vemos novidades em relação aos decênios passados, como um keynesianismo equilibrado no Brasil e políticas sociais re-distributivas de windfall profits na Argentina.

Logo, estudar a América Latina como região, compreender-nos relativamente aos nossos vizinhos, é ponto de partida apropriado para que possamos oferecer a nós mesmos, e ao mundo, alternativas originais para os desafios sociais, econômicos e ecológicos que o mundo enfrenta. Aos brasileiros, às vezes relutantes em se reconhecerem como latino-americanos, cabe lembrar que, se culturalmente somos parcialmente distintos por falarmos o português, territorialmente somos o país com o maior número de fronteiras com países latino-americanos. A mentalidade eurocêntrica nos faz ver a associação com a América Latina como motivo de vergonha; hoje, essa associação é empowering (política e analiticamente).


Felipe Amin Filomeno
é sociólogo e economista, doutorando em Sociologia pela Johns Hopkins University, com apoio da CAPES/Fulbright. Tem artigos publicados nas revistas Economia & Sociedade, História Econômica & História de Empresas, e da Sociedade Brasileira de Economia Política.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Fortalecendo o Partidão

PELA RECONSTRUÇÃO REVOLUCIONÁRIA

VIVA O PCB!!

Os comunistas da cidade de Nova Iguaçu no Estado do Rio de janeiro vêm se solidarizar com o Comitê Central eleito no XIV Congresso do Partido Comunista Brasileiro – PCB, realizado em outubro de 2009.

Este congresso marcou o processo de reconstrução revolucionária, e consolidou a reinserção do nosso partido nas relações internacionais e aprofundou a analise sobre o nosso país e definiu o caráter da revolução brasileira como socialista, onde nosso partido junto com as organizações da classe trabalhadora, partidos, sindicatos, movimentos populares devem lutar para construir uma frente anticapitalista e antiimperialista para criar as condições de luta contra a burguesia no poder.

Os comunistas da cidade de Nova Iguaçu condenam a atitude fracionária e antipartido de um grupo de São Paulo, que a todo tempo procurou sabotar nossa linha para o movimento sindical e apresentar uma falsa divergência e espalhar calúnias contra o partido e sua direção nacional através de e-mail’s, Orkut, Facebook, em uma clara falta de disciplina e sabotagem, o que fere os princípios leninistas de partido. As divergências no interior do partido são salutares desde que marcada as fronteiras destas divergências e que não fira a disciplina e o centralismo democrático. “A existência de frações no interior do partido e incompatível com a disciplina revolucionária e a unidade de ação de todos os militantes do partido”.

Apesar de tudo mais uma vez o PCB venceu, não foram às diversas repressões exercidas pela burguesia contra os comunistas e o liquidacionismo, que conseguiram acabar com o nosso partido. E não será a atitude fracionária deste grupo que vai acabar com o PCB.

Este fato deixa uma grande lição, a construção de um partido revolucionário não estar isento de erros e acidentes. Não se constrói uma organização revolucionária sem disciplina, sem critério no recrutamento e viciando a militância na formação de grupos e na incompreensão do que é um partido leninista. Um partido que tem como pretensão dirigir a classe operária e os demais trabalhadores na luta contra a ordem burguesa não pode ser um aglomerado acidental de indivíduos, o partido só deve se abrir a todos aqueles que queiram lutar contra a ordem burguesa.

Devemos caminhar em torno das resoluções do XIV congresso do nosso partido realizado em outubro de 2009 e procurar aplicar as resoluções aprovadas neste vitorioso congresso que consolidou o processo de reconstrução revolucionária. Em novembro deste ano realizaremos uma conferência nacional, onde vamos debater e aprofundar com toda militância os rumos do partido que estamos construindo.

Cada vez mais o PCB vem se consolidando como uma alternativa revolucionária para os militantes comunistas que seguem na luta contra a ordem capitalista em nosso país.

Ousar Lutar!!

Ousar Vencer!!

Nova Iguaçu, maio de 2011

Fonte: Zé Renato- Secretario Político do PCB de Nova Iguaçu

terça-feira, 24 de maio de 2011

Abdias do Nascimento, Presente!

Morre Abdias do Nascimento, guerreiro do povo negro


Faleceu nesta manhã de terça, 24, no Rio de Janeiro, o escritor Abdias do Nascimento. Poeta, político, artista plástico, jornalista, ator e diretor teatral, Abdias foi um corajoso ativista na denúncia do racismo e na defesa da cidadania dos descendentes da África espalhados pelo mundo. O Brasil e a Diáspora perdem hoje um dos seus maiores líderes.. A família ainda não sabe informar quando será o enterro. Aos 97 anos, o paulista de Franca, passava por complicações que o levaram ao internamento no último mês. Deixa a esposa Elisa Larkin, o filho e uma legião de seguidores, inspirados na sua trajetória de coragem e dedicação aos direitos humanos.

ABDIAS DO NASCIMENTO


Nascido em Franca, São Paulo, 14 de março de 1914..

Professor Emérito, Universidade do Estado de Nova York, Buffalo (Professor Titular de 1971 a 1981, fundou a cadeira de Cultura Africana no Novo Mundo no Centro de Estudos Porto-riquenhos).

Artista plástico, escritor, poeta, dramaturgo.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Quem Kaddafi Incomoda?

OUTRAS INFORMAÇÕES QUE NOS FAZEM PENSAR

O que a Comunicação Social não vai mostrar nem dizer:


I - SEJA KADDAFI O BIZARRO QUE FOR, A ONU CONSTATOU EM 2007 QUE A LÍBIA TINHA:


1 - Maior Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África (até hoje é maior que o do Brasil);


2 - Ensino gratuito até à Universidade;


3 - 10% dos alunos universitários estudavam na Europa, EUA, tudo pago;


4 - Ao casar, o casal recebia até 50.000 US$ para montar casa;


5 - Sistema médico gratuito, rivalizando com os europeus. Equipamentos de última geração, etc...;


6 - Empréstimos pelo banco estatal sem juros;


7 - Inaugurado em 2007, o maior sistema de irrigação do mundo, vem tornando o deserto (95% da Líbia) em fazendas produtoras de alimentos.

II - PORQUE "DETONAR" A LÍBIA ENTÃO?....

Três principais motivos:


1 - Tomar o seu petróleo de boa qualidade e com volume superior a 45 bilhões de barris em reservas;


2 - Fazer com que todo o mar Mediterrâneo fique sob o controlo da OTAN. Só falta agora a Síria;


3 - E provavelmente o principal:

- O Banco Central Líbio não é atrelado ao sistema financeiro mundial.

- As suas reservas são toneladas de ouro, que dão respaldo ao valor da moeda, o dinar, que desta forma está resguardado das flutuações do dólar.


- O sistema financeiro internacional ficou possesso com Kaddafi, após ele propor, e quase conseguir, que os países africanos formassem uma moeda única desligada do dólar.


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III - O QUE É O ATAQUE HUMANITÁRIO PARA LIVRAR O POVO LÍBIO:

1 - A OTAN comandada, como se sabe, pelos EUA, já bombardearam as principais cidades Líbias com milhares de bombas e mísseis em que um único projéctil é capaz de destruir um quarteirão inteiro. Os prédios e infra estruturas de água, esgotos, gás e luz estão sèriamente danificados;


2 - As bombas usadas conteem DU (Uranio depletado) que tem um tempo de vida de cerca de 3 bilhões de anos (causa cancro e deformações genéticas);


3 - Metade das crianças líbias estão traumatizadas psicologicamente por causa das explosões que parecem um terramoto e racham as estruturas das casas;


4 - Com o bloqueio marítimo e aéreo da OTAN, as crianças sofrem principalmente com a falta de medicamentos e alimentos;


5 - A água já não mais é potável em boa parte do país. De novo as crianças são as mais atingidas;


6 - Cerca de 150.000 pessoas por dia, estão deixando o país através das fronteiras com a Tunísia e o Egito. Vão para o deserto ao relento, sem água nem comida;


7 - Se o bombardeio terminasse hoje, cerca de 4 milhões de pessoas estariam precisando de ajuda humanitária para sobreviver: Água e comida.

De uma população de 6,5 milhões de pessoas.


Em suma: O bombardeio "humanitário", acabou com a nação líbia. Nunca mais haverá a "nação" Líbia tal como ela existia.

SIMPLES ASSIM.

Fonte : www.globalresearch.ca

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Assembléia Geral da Casa da América Latina

Prezados (as) companheiros (as)
No Prôximo dia 14/05, estaremos realizando a Assembléia de eleições da CAL, sua presença é fundamental, para o bom desempenho dos trabalhos. Comunico a quem ainda não esteja em dia com a contribuição a CAL, que poderá faze-lo, no dia da Assembléia.

Saudações Latino Americanas
Valmiria Guida

Rio de Janeiro, 02 maio de 2011


Edital de Convocação para Eleição dos Membros do Conselho, da Diretoria, daComissão Fiscal


O Presidente da Casa da América Latina CONVOCA, por meio deste Edital, de acordo com disposto na alínea “b” e seu parágrafo único do artigo nº 12, 14 e 15 do Estatuto da entidade, os seus associados e conselheiros para Assembléia Geral Extraordinária que será realizada no Sindicato dos Médicos, sito na Av. Churchill,97/11°, auditório- Centro– Rio de Janeiro - RJ, às 10h do dia 14 de maio do corrente ano, em primeira convocação e, em não havendo quorum, às 10:30h do mesmo dia, em segunda convocação, com qualquer número de associado e conselheiro tendo como pauta a eleição dos Membros do Conselho, da Diretoria, da Comissão Fiscal, para o triênio março/2011 a março/2014.

Rio de Janeiro - RJ, 02 de maio de 2011

Raymundo T.C. de Oliveira

Presidente da Casa da América Latina


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domingo, 1 de maio de 2011

Peruanas, em luta, Fujimori nunca mais


Coletivo de mulheres realiza manifestações contra família Fujimori




Karol Assunção

Adital

Integrantes do coletivo "Mulheres Dignidade: Não a Keiko” realizam, nesta quarta (27), a primeira "Caminhada pela Dignidade e Memória: Nunca mais Fujimori”. A ação inaugurará uma série de atividades pacíficas para relembrar à população os crimes ocorridos durante o mandato de Alberto Fujimori, pai da candidata à presidência do Peru, Keiko Fujimori. No próximo dia 5 de junho, Keiko (Fuerza 2011) disputará o segundo turno das eleições peruanas com Ollanta Humala (Gana Peru).

De acordo com comunicado do coletivo, as mulheres partirão às 18h do Centro Comercial Risso, em Lince, rumo ao Memorial "El Ojo que Llora”, em Jesús María. O objetivo é chamar atenção da sociedade peruana para os casos de corrupção e de violação aos direitos humanos realizados no governo de Fujimori (1990-2000) para, assim, evitar que a família retorne ao poder.

"Consideramos que a dignidade de peruanas e peruanos é incompatível com o retorno de um regime autoritário, corrupto e de capitalismo selvagem como o que propõe Força 2011, representado por sua candidata Keiko Fujimori. Sua candidatura reivindica o atropelo ao Estado de Direito e à ordem democrática, a corrupção sistemática e generalizada, e as violações aos direitos humanos, econômicos e sociais de todos os peruanos e peruanas”, destaca o documento.

O grupo de mulheres acusa Keiko Fujimori de ter sido cúmplice dos crimes cometidos durante o governo do pai dela, como sequestros, desaparecimentos forçados e execuções extrajudiciais. "Por sua parte, a candidata fujimorista tem se negado persistentemente a esclarecer ante a Justiça a origem dos mais de 800 mil dólares com os quais ela e seus irmãos financiaram seus custosos estudos no estrangeiro”, observa.

Alberto Fujimori foi presidente do Peru entre os anos de 1990 e 2000. Em 2009, foi condenado pela Suprema Corte de Justiça a 25 anos de prisão por homicídios qualificados, lesões graves e sequestros nos episódios de Barrios Altos e La Cantuta, praticados nos anos de 1991 e 1992. Juntos, os dois casos resultaram na morte de 25 pessoas.

O governo de Fujimori também ficou conhecido pelas esterilizações forçadas. Notícias dão conta de que cerca de 200 mil mulheres foram obrigadas a passar por cirurgias de ligação de trompas no marco do Programa de Anticoncepção Cirúrgico Voluntário (ACV), em vigor entre os anos de 1996 e 2000.

As cirurgias eram feitas com o objetivo de controlar a natalidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Entre as principais vítimas estavam: mulheres pobres, camponesas e indígenas, as quais, muitas vezes, eram submetidas à intervenção cirúrgica sem o devido esclarecimento e permissão.

Eleições

Ollanta Humala e Keiko Fujimori disputarão o segundo turno das eleições presidenciais peruanas no próximo dia 5 de junho. No primeiro turno, realizado no dia 10 deste mês, Humala saiu na frente com 31,69% dos votos. Keiko Fujimori ficou em segundo lugar com 23,55%.

Fonte: Patria Latina- online

sábado, 16 de abril de 2011

Eldorado dos Carajás, 15 anos de impunidade e descaso

Carajás 15 anos, o massacre presente

Aniversário da chacina lembra a necessidade de punição aos assassinos e de tratamento e indenização às vítimas

15/04/2011

Márcio Zonta

de Eldorado dos Carajás (PA)

Ao andar pelas ruas da vila do assentamento 17 de abril em Eldorado dos Carajás, ainda escuta-se muitas histórias sobre a marcha que culminou no massacre da curva do S, na rodovia PA 150, em Eldorado do Carajás, há 15 anos. Os sobreviventes ainda têm dúvidas quanto ao número oficial de mortos divulgados pelo Estado, pois há crianças, homens e mulheres desaparecidos que não estavam na lista dos mortos e, tampouco, foram encontrados depois. As marcas do massacre persistem tanto na simbologia da conquista das cinco fazendas, parte das 15 existentes no complexo Macaxeira, quanto no corpo dos mutilados ou na cabeça de muitos que viveram aquele 17 de abril de 1996.

“Foi a tarde mais sangrenta da minha vida”, recorda Haroldo Jesus de Oliveira, o primeiro sobrevivente a conversar com a reportagem. Quem o vê trabalhando atencioso e calmo na Casa Digital 17 de abril, monitorando jovens e crianças no manuseio da internet, não imagina as recordações que ele guarda. “Acordamos felizes naquela manhã do dia 17, pois o Coronel Pantoja, junto a uma comissão, do então governador Almir Gabriel (PSDB), disse que daria os ônibus para que fossemos até Belém, onde pressionaríamos o governo para desapropriação dessas terras. Inclusive, já tínhamos desobstruído a rodovia na noite anterior, já que esse era nosso acordo, e preparado a alimentação para as famílias que participavam da marcha”, diz Oliveira.

Onze horas da manhã venceu o prazo do acordo, e em vez de chegar os ônibus, que levariam cerca das 1,8 mil famílias da marcha, chegou o batalhão da Polícia Militar, o que fez com que as famílias retomassem a estrada. “Eu me lembro como se fosse hoje. Estávamos de prato na mão, almoçando, sob uma chuvinha leve, um sereninho bom. Muitos homens começaram a descer dos ônibus da polícia e montar o acampamento, por volta de três da tarde, e ficaram cerca de 90 minutos preparando-se, como se fossem para uma guerra”, relata Oliveira.

Depois de estabelecidos os policiais no local, a mesma comissão disse que não providenciaria os ônibus e que tinha ordens do governador para retirar as famílias da via. “Nós nunca pensamos que poderia acontecer aquilo. Perto das 17 horas, começaram a jogar bombas de efeito moral contra as pessoas e a atirar no chão. Pessoas tomavam tiros nas pernas e caiam. Mas aqueles que iam para cima, eles atiravam no peito mesmo”. A carnificina começou naquele momento e pelas contas de Oliveira durou cerca de cinquenta minutos.

“Tive que sair pelo chão me arrastando para o miolo de gente junto à água da chuva, que se misturava com sangue, tinha muita gente no asfalto ferida, gritando, chorando...”, lembra emocionado Oliveira.

Premeditado

Amanhece no assentamento 17 de abril e, enquanto, muitos agricultores já estão na roça, as 7h, começa a entrada das crianças na escola que leva o nome de Oziel Alves Pereira, sem-terra de 17 anos espancado até a morte no hospital pelos policiais, por gritar palavras de ordem do MST, na noite do dia 17 de abril, em Curianópolis (PA), para onde foram levados os feridos.

Zé Carlos, companheiro de linha de frente junto a Oziel no dia do massacre, confere a mochila do filho na frente da escola, passa algumas recomendações e o beija ao se despedir. Sobre o dia da chacina, que lhe custou uma bala alojada na cabeça e a perda de um olho, Zé Carlos é enfático: “utilizaram-se de táticas de guerra”. Zé lembra que um caminhão que estava parado na estrada, por causa do bloqueio, foi oferecido às famílias como proteção. “O motorista chegou e disse: ‘vou atravessar esse caminhão na pista para ajudar vocês’. Mas estranhamente toda a ação policial iniciou-se atrás desse veículo, sendo o escudo principal deles, tapando nossa visão. Foram os policiais que pediram”, garante.

Zé conta que os policiais vinham do sentido de Parauapebas e Marabá, ambas cidades paraenses interligadas pela rodovia, além dos que saíam do meio da mata dos dois lados da pista. “Nos cercaram para matar mesmo, pois vinham de todas as direções atirando”. Segundo Zé, é difícil para quem esteve no dia aceitar o número de apenas 21 mortos ditos pelo Estado.“Isso é brincadeira. Morreu muita gente, entre homens, mulheres e crianças. Vi muita gente morta, não pode ser, Tenho até medo de falar, deixa isso para lá. Mas garanto que foi muito mais”.

Ao apagar das luzes

Como se um espetáculo tivesse acabado, ao anoitecer no dia 17 de abril, as luzes do município de Eldorado do Carajás foram apagadas e seu cenário de morte, desmontado. Essa é a sensação que teve a jovem Ozenira Paula da Silva, com 18 anos na época do acontecido. “Apagaram as luzes para desmontar o que tinham feito, para limparem a via. Jogavam corpos e mais corpos em caçambas de caminhão, que tomavam rumos diferentes”.

Após os primeiros disparos, Ozenira só teve tempo de pegar os seus três filhos, todos com menos de cinco anos, e correr para a mata ao lado, percebendo momentos depois que tinha sido baleada na perna esquerda, na altura da coxa. “Tinha muita gente escondida na mata, próximo às margens da rodovia e foi justamente essas pessoas que viram muitos corpos sendo desviados para fora do caminho do Instituto Médico Legal (IML), de Marabá, para onde eram levados os mortos”.

Ozenira diz que algo lhe intriga até hoje. “Depois que terminou a matança, uma criança branquinha de uns dois anos foi achada na escuridão do mato, aos prantos, por uma mulher que procurava seus familiares. Essa mulher a recolheu. Sei que essa criança viveu com ela bastante tempo em Curianópolis, mas depois perdi o contato”.

Onde estariam os pais da criança naquela noite? Ozenira responde: “Não tenho como provar, mas tenho quase certeza que estavam em algum caminhão de remoção de cadáveres”, finaliza.

O massacre continua

Poucos mutilados receberam seus direitos de indenização e até hoje, quinze anos depois, muitos nem recebem a pensão mensal de R$346. Ozenira é uma delas. “Fui atendida no hospital apenas no dia do acontecido, depois nunca mais tive atendimento médico, tenho dias de dores horríveis e outros de dormência na perna”, conta.

Já Zé, hoje aos 32 anos, foi um dos únicos a receber, em 2008, uma indenização de R$ 85 mil reais, mais a pensão mensal no valor citado acima. Hoje vive do que seus irmãos plantam em seu lote, já que tem dificuldades para trabalhar em função das sequelas do tiro na cabeça.

Mas, um caso em especial entre os mutilados chama a atenção. Mirson Pereira, um dos únicos que conseguiu uma cirurgia, no Hospital Regional de Marabá, para retirar uma bala alojada na perna esquerda. “Pensei que seria o fim das dores, mas quando voltei da sala de cirurgia o médico disse que havia errado e feito o corte na perna errada, disse que no outro dia realizaria o procedimento na perna certa, mas desisti, fiquei com medo e saí do hospital”. Pereira continua com a bala na perna e ainda aguarda sua indenização.

O descaso do Estado brasileiro em relação ao massacre de Eldorado dos Carajás já gerou contra o governo um processo, em 1998, na Corte Interamericana de Direitos Humanos, com sede nos Estados Unidos, feita pelo Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL). “O governo brasileiro agiu de duas formas quando foi notificado pela entidade internacional. Primeiramente, culpou os próprios marchantes pelo ocorrido e, num segundo momento, por força da opinião pública, disse que já fazia coisas no assentamento, o que compensava o ocorrido”, explica Viviam Holzhacker, advogada assistente da CEJIL, que acompanha o caso.

No entanto, por pressão internacional, a advogada diz que o governo brasileiro aderiu a um processo, recentemente, de buscar acordo com os mutilados. “São feitas propostas de ambos os lados até chegar a um acordo. Deve levar mais uns cinco anos para ser resolvido o caso de todos”, explica.

Diante deste imbróglio, na ausência de um tratamento médico adequado que cuide do corpo e da mente dos participantes da marcha, Índio, um dos mutilados, com duas balas alojadas na perna esquerda desabafa: “Aconteceu o massacre em 1996. Mas ele terminou? Não! Pois esse grupo [do assentamento] ficou apenas porque o Estado não deu conta de matar no dia. Ficamos para contar a história, sofrer e ir morrendo aos poucos num massacre diário, que só terminará por completo com nossa morte”.

Fonte: Brasil de Fato- online





Pequenos colombianos, vitimas

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