113 anos de nascimento de Gregório
Bezerra
Alguns escritores e poetas definiram a questão da morte relacionada
com as pessoas que lideram e lutam por causas justas e coletivas de uma forma
muito especial. O poeta e escritor Guimarães Rosa disse que pessoas assim, de
fibra, “não morrem, elas se encantam”; para os índios, segundo Antônio Callado
disse no Quarup, as pessoas que têm essas características “nunca morrem, pois o
seu pensamento entra em outras cabeças”.
Gregório Bezerra nasceu no início do século XX, em 13 de março de
1900, no Município de Panelas. Sofreu todas as dificuldades para sobreviver na
infância, começando a trabalhar com 4 anos de idade, ficou órfão aos 6 anos,
trabalhou como doméstico aos 10 anos em Recife, carregou frete, foi vendedor de
jornais, mesmo sendo analfabeto até os 25 anos. Foi preso quando era ajudante de
pedreiro porque apoiava a luta dos trabalhadores da construção civil, quando
tinha apenas 16 anos, e cumpriu quase cinco anos de prisão, na Casa de Detenção
do Recife. Não desistiu diante de
tudo que enfrentou e que sofreu.
Foi para o exército, viajou para o Rio de Janeiro, aprendeu a ler e
a escrever, fez curso de sargento, foi um dos mais destacados do País, andou
pelo Brasil e depois veio servir em Pernambuco, como sargento instrutor de
educação física e de tiro ao alvo.
Nos anos 30 começou a ter contato com o Partido Comunista (PCB)
através de trabalhadores que viajavam com ele de trem, pela literatura dos
jornais e livros que destacavam a luta pelo socialismo no Brasil e no mundo.
Em 1935 participou do levante armado contra o fascismo que assolava
o mundo e se espalhava pelo Brasil, participando da Aliança Nacional Libertadora
(ANL), movimento liderado por Luiz Carlos Prestes, denominado de o Cavaleiro da
Esperança. Ficou preso dez anos e só saiu com a Anistia em 1945. Foi eleito
deputado federal constituinte, sendo o 2º mais votado de Pernambuco, se
integrando a uma das mais expressivas e combativas bancadas da história do
parlamento brasileiro, que foi a bancada comunista liderada pelo senador Luiz
Carlos Prestes.
Teve cassado seu mandato com nova prisão em 1947. Foi solto, seguiu
para a clandestinidade pelos diversos estados da federação, participando de
lutas camponesas pela reforma agrária e nos comitês pela paz mundial.
Em 1957, nova prisão, solto, voltou para Pernambuco e participou
das campanhas de Cid Sampaio para Governador, de Miguel Arraes para Prefeito e
para Governador e de Pelópidas Silveira para Prefeito. Desenvolveu um grandioso
trabalho de articulação e organização dos camponeses na fundação dos sindicatos
de trabalhadores rurais da zona canavieira de Pernambuco e do Partido Comunista
Brasileiro, o PCB.
Em 1964 Gregório foi arrastado com três cordas no pescoço, depois
de ter sido submetido a todo tipo de violência e tortura, pelas ruas do Recife,
numa das cenas mais hediondas do século XX. Mas não se deu por vencido e
continuou lutando pelo soerguimento do PCB, mesmo dentro da prisão, novamente na
Casa de Detenção do Recife, hoje transformada na Casa da Cultura. Foi um dos
presos políticos trocados pelo embaixador americano em 1969. Seguiu para o
exílio na União Soviética e voltou em 1979, através de nova anistia.
Voltou com 79 anos, mas continuou sua luta, já trazendo na bagagem
seu livro de memórias, publicado, à época, em dois volumes, e seguindo sua vida
política, agora como membro do Comitê Central do PCB.
Acompanhou Prestes em sua Carta aos Comunistas, participando
ativamente da luta pela “Reconstrução Revolucionária do Partido”, apoiando a
convocação para “Tomar o Partido em suas mãos”, através das bases, andando pelo
País, e especialmente pelo Nordeste, na organização dos “Comitês de Defesa do
Partido”.
Gregório Bezerra foi sintetizado pelo poeta Ferreira Gullar, como
um homem “Feito de Ferro e de Flor”, porque mesmo diante de todos os problemas,
da fome, do analfabetismo na juventude, das diversas prisões, da moradia nas
ruas, da clandestinidade, em nenhum momento ele se lamentava, muito pelo
contrário, estava sempre de bom humor, disposto a participar dos eventos, da
reconstrução revolucionária do Partido, da conquista de novos quadros,
corroborando com a força da luta por um ideal revolucionário e socialista, pelo
fortalecimento das lutas do povo, pela defesa dos direitos das crianças e dos
adolescentes como prioridade absoluta, tendo a coragem de enfrentar sempre os
desafios impostos pelo sistema capitalista, com ética, honestidade, firmeza, e,
tudo isso, com muita ternura e carinho com todas as pessoas que estavam
presentes em seus caminhos.
Por tudo isso, Gregório “não morreu, se encantou”, como dizia o
poeta Guimarães Rosa, se encantou nas lutas dos trabalhadores rurais, dos
movimentos sociais de luta pela terra, nas crianças abandonadas pelas ruas, nas
pessoas que são exploradas e esmagadas em seus direitos. Como também, Gregório
não morreu, como diziam os índios no Quarup de Antonio Callado, porque figuras
da dimensão heroica dele, continuam povoando “as cabeças das pessoas com seus
pensamentos” de esperança e luta de
construir um outro mundo, um outro modo de vida onde as riquezas, a ciência e
tudo que se produza possa ser
compartilhado com todos.
Gregório Bezerra, Presente!
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