quinta-feira, 23 de agosto de 2012

E o livro foi pro lixo

UM LIVRO, MINHA FILHA?

- O que é isso?
- O quê?
- Isso aqui, na mesa.
- É um livro.
- Um livro?
- É, pai. Um livro de poesia que ganhei da Vanessa, aquela minha colega que só tira dez.
- Um livro de poesia?!
- É...
- Deu pra ler livro agora, é?
- Ah, pai...foi presente.
- Norma!
- Norma, vem cá!

- Você viu isso aqui?
- O que é isso?
- Pergunta pra sua filha.
- O que é isso, Amandinha?
- É um livro, mãe. Um livro de poesia que eu ganhei da Vanessa, aquela minha amiga que só...
- Você trouxe um livro pra casa, minha filha?!
- Ah, mãe...
- Eu não sei onde isso vai parar! Eu compro um pacote de TV por assinatura, com quase cem canais, e minha filha me traz um livro pra casa! Olha o seu irmão, está lá no quarto com os amigos há três horas vendo filme. Ele valoriza o meu esforço.
- Ah, pai, eu nem abri o livro ainda. Só vi que é de um tal de Manoel não sei de quê...de Barros, eu acho.
- Manoel, isso é nome de autor? Isso é nome de padeiro, isso sim!
- Seu pai tá certo, minha filha. Ele dá um duro danado e você me traz livro pra casa? O que você tem na cabeça? A programação não tá boa?
- Está, mãe, mas sei lá, fiquei sem jeito de recusar.
- Falando nisso, Norma, liga pra mim e me traz uma cerveja, por favor. Tá na hora da final da segunda divisão. E leva esse negócio daqui antes que eu fique mais nervoso.
- Amandinha, o que você vai fazer com isso?
- Não sei, mãe, eu pretendia...ler.
- Ler? Pra que ler, minha filha? Ainda mais poesia, que não serve pra nada?
- Você tá ficando é doida mesmo. Tanto canal aí e você vai ler. Larga disso, minha filha.
- Mas foi presente, pai.
- Mesmo assim, minha filha. Papai só quer o seu bem. Isso aí pode fazer você pensar, refletir, vai acabar é te fundindo a cabeça. Vem ver um joguinho aqui que é muito mais relaxante. Vem.

Amandinha fica de cabeça baixa, mas o pai, num gesto carinhoso, a leva para o lado dele.

- Senta aqui, minha filha, papai te ama, você sabe disso, e quer o melhor pra você. Ó, o jogo já vai começar. Vamos ver juntos.
- Tá bom, pai...
- Norma, faz um tira-gosto pra gente, faz? (dá uma piscada em direção ao livro)

Amandinha ainda dá uma última olhada no presente, enquanto a mãe o leva para a cozinha e o despeja na lata de lixo, junto com as cascas de batata do almoço e as pilhas do controle remoto.




Fonte: escritor e jornalista André Mansur

www.criticasmansur.blogspot.com
www.manualdoserrote.blogspot.com

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Política hedionda de remoção da Prefeitura do Rio


Em nome do futuro, Rio está destruindo o passado
Política hedionda de remoções da Prefeitura do Rio e da SMH tem sucesso de imprensa internacional: chegou ao New York Times 
Parabens ao Prefeito e à SMH

OS Jogos Olímpicos de Londres terminaram no domingo, mas no Rio de Janeiro a batalha pelos próximos Jogos acaba de começar; as manifestações contra despejos ilegais de alguns dos moradores mais pobres da cidade estão se espalhando. De fato, as Olimpíadas do Rio parecem dispostas a aumentar a desigualdade em uma cidade já conhecida por essa característica. 

Em julho, a UNESCO atribuiu a uma parte substancial da cidade do Rio de Janeiro o status de Patrimônio Mundial da Humanidade. É uma área que inclui algumas de suas favelas e morros em que vivem mais de 1,4 milhão dos seus seis milhões de habitantes. Nenhuma favela pode reivindicar maiorimportância histórica do que a primeira a surgir no Rio, a do Morro da Providência. No entanto, os projetos de construção olímpica estão ameaçando precisamente o futuro dessa área. 

A favela Providência começou a se formar em 1897, quando veteranos da sangrenta Guerra de Canudos, no nordeste do Brasil, receberam a promessa de concessão de terras no Rio de Janeiro, que na época era capital federal. Ao chegarem, descobriram que não havia terras disponíveis. Depois de acamparem em frente ao Ministério da Guerra, os soldados foram removidos para um morro das proximidades, que pertencia a um coronel, mas não receberam os títulos de propriedade da terra. Originalmente batizada de “Morro da Favela”, nome da planta espinhosa típica das colinas de Canudos, onde haviam passado inúmeras noites, a Providência cresceu ao longo do começo do século 20, à medida que escravos libertos se juntavam aos antigos combatentes. Grupos de novos migrantes europeus também se estabeleceram por lá; esse era o único modo acessível de viver perto dos empregos no centro da cidade e no porto. 

Com vista para o local por onde centenas de milhares de escravos africanos entraram no Brasil pela primeira vez, a Providência é parte de um dos sítios culturais mais importantes da história afro-brasileira, berço da criação primeiros sambas comerciais, onde floresceram tradições afro-brasileiras como a capoeira e o candomblé e onde se fundou o Quilombo Pedra do Sal. Hoje, 60% dos moradores da área continuam sendo afro-brasileiros. 

Mais de um século após o surgimento, a favela da Providência ainda carrega a marca cultural e física dos seus primeiros habitantes. Mas agora está ameaçada de destruição em nome das melhorias olímpicas: a ideia é demolir quase um terço da comunidade, uma decisão que inevitavelmente desestabilizará o que restar da favela. 

Até meados de 2013, a Providência terá recebido 131 milhões de reais (US $65 milhões) em investimentos do plano de revitalização da zona portuária carioca, capitaneado pelo setor privado, iniciativa que engloba um teleférico, um bonde funicular e ruas mais amplas. As intervenções municipais anteriores, realizadas com o intuito de melhorar a comunidade, sempre reconheceram sua importância histórica, mas os projetos atuais não têm essa preocupação. 

Embora a prefeitura alegue que esses investimentos beneficiarão aos moradores da região, um terço da comunidade já foi marcada para remoção e as únicas “reuniões públicas” organizadas visavam apenas informar aos moradores qual seria seu destino. Durante o dia, as iniciais da Secretaria Municipal de Habitação e um número são pintados nas paredes das casas com tinta-spray. Moradores voltam para casa e descobrem que suas casas serão demolidas, mas não recebem nenhuma orientação sobre o que vai acontecer com eles e nem quando será. 

Um passeio rápido pela comunidade revela a assustadora situação de insegurança em que os habitantes estão vivendo: no topo da colina, aproximadamente 70% das casas estão marcadas para despejo: uma área que a princípio deverá ser favorecida pelos investimentos que estão sendo realizados em transporte. Mas o teleférico de luxo vai transportar entre mil e três mil pessoas por hora durante os Jogos Olímpicos. Portanto, não serão os moradores os beneficiados, e sim os investidores

Os habitantes da Providência estão temerosos. Apenas 36% deles possuem documentos comprovando seus direitos de propriedade, em comparação com 70 a 95% na mesma situação em outras favelas. Mais do que em outras comunidades pobres, esses moradores estão muito desinformados sobre os seus direitos e apavorados diante da possibilidade de perderem suas casas. Some-se a isso a abordagem da prefeitura de “dividir para conquistar”, — os residentes são confrontados individualmente para assinar o reassentamento e não se permitem negociações comunitárias — e a resistência é silenciada de modo efetivo. 

A pressão exercida pelos grupos de direitos humanos e pela mídia internacional tem ajudado. Mas os despejos brutais continuam e surgem formas de remoção novas, mais sutis. Como parte do plano da prefeitura para a revitalização do porto, as autoridades declaram que os “reassentamentos” são do interesse dos próprios moradores, porque vivem em “áreas de risco” onde pode haver deslizamentos de terra, e porque supostamente é necessário que haja uma “desdensificação” para melhorar a qualidade de vida. 

Porém, existem poucas evidências de risco de deslizamentos ou de superlotação perigosa; 98% das casas da Providência são feitas de concreto e tijolos robustos, e 90% delas têm mais de três cômodos. Além disso, umrelatório importante produzido por engenheiros locais demonstrou que os fatores de risco anunciados pela prefeitura haviam sido inadequadamente estudados e são imprecisos. 

Se o Rio conseguir desfigurar e desmantelar sua favela mais histórica, abrirá o caminho para novas destruições em centenas de outras favelas da cidade. O impacto econômico, social e psicológico dos despejos é calamitoso: famílias removidas para unidades isoladas perdem o acesso aos significativos benefícios econômicos e sociais da cooperação comunitária, e também perdem a proximidade do trabalho e das redes de contato, sem mencionar os investimentos feitos por várias gerações familiares em suas casas. 

O Rio de Janeiro está se tornando um playground para ricos. E a desigualdade gera instabilidade. Seria muito mais eficaz economicamente investir em melhorias urbanas, definidas com a ajuda das comunidades dentro um processo democrático participativo. Em última instância, essa estratégia poderia fortalecer a economia e desenvolver a infraestrutura da cidade; e ao mesmo tempo, reduzir desigualdades e fortalecer a população afro-brasileira, que ainda hoje é marginalizada. 

Theresa Williamson, fundou a Comunidades Catalisadoras, um grupo que trabalha em defesa das favelas e publica RioOnWatch. Maurício Hora, fotógrafo, dirige o programa Favelarte na favela Providência. Esta reportagem foi traduzida do inglês por Mónica Baña-Alvarez.




terça-feira, 7 de agosto de 2012

Solidariedade a Anita Leocádia Prestes

SOLIDARIEDADE A ANITA LEOCÁDIA PRESTES 

Manifestamos nossa irrestrita solidariedade à professora Anita Leocádia Prestes, diante da insidiosa manipulação de diversos meios de comunicação conservadores que tentam insinuar a ligação dela como envolvida no rumoroso processo conhecido como “mensalão”. 
A manipulação consiste em não revelar o sobrenome e nem a fotografia de uma indiciada, chamada Anita Leocádia Pereira da Costa, para sugerir a impressão de que se trata da digna professora, cuja conduta impoluta e sólida formação ética e ideológica são conhecidas de todos aqueles que a conhecem. 
Um importante portal de notícias chegou ao ponto de expor a fotografia de Anita Leocádia Prestes, ao lado de sua tia Ligia Prestes, irmã do Cavaleiro da Esperança. Apesar de este portal ter feito uma errata alguns dias depois, em espaço secundário, a foto de nossa estimada professora foi exposta durante dias em sua página principal, atribuindo-se a ela as acusações que pairam contra a sua homônima. 
Estes “erros” de informação não são fortuitos. Trata-se de uma torpe campanha que tenta atingir não só a professora Anita Leocádia Prestes, mas também a irretocável imagem de seu pai, Luiz Carlos Prestes, símbolo maior da luta intransigente contra uma forma de sociedade em que a corrupção é sistêmica e a “liberdade de imprensa” é usada para alienar, manipular e sobretudo manter os privilégios das classes dominantes. 

www.pcb.org.br

Pequenos colombianos, vitimas

Pequenos colombianos, vitimas
O Mercado, não vê indigência

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