sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Kadhafi É A Bola Da Vez

Será que está acontecendo mesmo na Líbia o que a mídia diz que está acontecendo?

Pela postura panfletária dos jornalistas ocidentais, é difícil acreditar em qualquer coisa que digam


“A única coisa que não acontecerá em caso de remoção de Khadafi do poder é a democracia, não agora, e não por um longo tempo”.
Benjamin R. Barber, membro do Conselho Internacional da Fundação Internacional Gaddafi para a Caridade e o Desenvolvimento, do qual se demitiu esta semana.


“A Líbia é um país com muito potencial, que já está sendo realizado e vai continuar a ser. O país está na contramão da crise mundial, acumulou muitas reservas e não está endividado”.,
Daniel Villar, Executivo da Construtora brasileira Odebrecht em Trípoli.

Desculpem-me, preclaros leitores, mas esse noticiário sobre a Líbia não está me cheirando bem. Faz lembrar aquele bombardeio midiático de 16 a 18 de abril de 1961, quando a nossa ínclita FOLHA DE SÃO PAULO noticiava, eufórica, a “vitoriosa” invasão de Playa Giron, em Cuba, por mercenários armados e treinados pela CIA..

Naquele então,o jornal detalhava os avanços triunfais de um certo exército que seria derrotado e humilhado em não mais de 72 horas.
“José Miró Cardona, presidente do Conselho Revolucionario Cubano, chegou à Provincia de Oriente para reunir-se com as forças contra-revolucionarias que desembarcaram esta manhã na ilha, anunciou a Frente Revolucionaria Democrática do México, referindo-se a informações recebidas de Miami e Cuba. Ao que parece, Miró Cardona já se encontra em Santiago de Cuba, cidade que caiu em poder dos contra-revolucionários. Segundo indicam na mesma fonte, a cidade de Revellanos, na Província de Matanzas, a 135 km de Havana, teria caído em poder dos invasores.
Por outra parte, acredita-se que forças anticastristas desembarcaram igualmente na ilha de Los Pinos, onde está a penitenciaria para a qual o governo castrista enviava seus prisioneiros politicos. Todos estes prisioneiros lograram, ao que parece, depois de lutar com seus guardas, unir-se às forças invasoras”.

Tremendas “barrigas”, como se diz na gíria jornalística, destinavam-se a dar suporte a uma esperada intervenção direta dos fuzileiros navais norte-americanos, o que só não aconteceu porque o presidente John Fitzgerald Kennedy teve um repentino ataque de lucidez e pisou no freio ao saber que era tudo mentira: Miró Cardona não havia saído nem do banheiro de sua mansão em Miami Beach, devido a uma disenteria incontrolável.

Os sócios brasileiros de Kadhafi

Não, não estou querendo criar miragens nas mediterrâneas terras líbias. Não quero nem tomar partido, embora o mais fácil, de assimilação mais confortável, seria engrossar o cordão dos que estão bancando a revanche ao débâcle no Egito e na Tunísia.

Ou então partilhar da angústia das grandes empreiteiras brasileiras, que se fizeram “sócias de Kadhafi” em vultosos empreendimentos, que, entre outros contratos, prevêem a construção de 1 milhão de casas pela Queiroz Galvão num país de pouco mais de 6 milhões e 300 mil habitantes. Nossas grandes construtoras encontraram lá seu oásis de bons negócios, graças, reconheça-se, ao espírito mascate e ao gosto por viagens do ex-presidente Luiz Inácio, certamente inspirado nos passos internacionais de João Paulo II, que tirou a Igreja Católica da redoma do Vaticano.

Ou você não sabe da corrida ao ouro que envolve Odebrecht, Queiróz Galvão, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa em canteiros de obras que podem faturar mais de 3 bilhões de euros? Só a Odebrecht orçou em 950 milhões de euros a construção de dois terminais no aeroporto de Trípoli e em 250 milhões o terceiro anel rodoviário dessa cidade de 1 milhão e 800 mil habitantes.

Manipulação a preço de ouro

Matéria de Khatarina Garcia e Peter Blair, despachada de Washington e Cairo, publicada em vários jornais do mundo, no dia 20 de fevereiro próximo passado, mostra foto de uma manifestação de partidárias do líder líbio que foi apresentada ao mundo como sendo de seus opositores.

Os dois jornalistas afirmam com todas as letras que os Estados Unidos culpam Líbia e Irã pelas agitações que deram na queda de dois aliados incondicionais. “Em entrevista coletiva de imprensa, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip Crowley reafirmou as palavras do Presidente Barak Obama em que sugeriu apoio à oposição a Ahmednejad e a Kadhafi, em represália á derrota política sofrida por Washington nestas últimas semanas e pela queda dos governos do Egito e Tunísia”.

Fonte: Palanquelivre- online

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Parem de Massacrar o Haiti

A Missão da ONU e o Governo Lula

O golpe de 2004 no Haiti chega a ser mais escandaloso do que foi o golpe de 2002 na Venezuela em que Chávez ficou seqüestrado por 3 dias. Não foi um golpe de militares haitianos patrocinados pelos EUA. Foi um golpe executado diretamente por militares estadunidenses! E no contexto de então, em que Bush se via confrontado com a maior mobilização global da história, de milhões de pessoas nas ruas, em todos os cantos do mundo, contra a guerra do Iraque, Washington não podia deixar parecer que estava começando outra guerra na América Central, numa ilha a duas braçadas de Cuba e da Venezuela!

Era importantíssimo para os EUA que a ocupação militar no Haiti tivesse a aparência de uma “missão de ajuda”, uma “missão de paz”. Para isso precisavam que um país não-imperialista, de “ficha limpa”, chefiasse as tropas da ONU. E o Brasil caiu como uma luva, pois tinha como presidente recém-eleito uma figura respeitada pelos movimentos de esquerda em todos os países: Lula.

[] Lula, que já vinha seguindo à risca a orientação de Washington no Brasil (alianças com a burguesia, contra-reforma da previdência, subsídios ao latifúndio, aumento do superávit primário para o pagamento da dívida externa, etc.) não pensa duas vezes. E argumenta que isso ajudará o Brasil a conquistar um acento permanente no genocida Conselho de Segurança da ONU!

Os trabalhadores brasileiros não elegeram Lula para conseguir uma vaga pro Brasil num conselho que decide qual país deve ser invadido militarmente, muito menos para participar de uma dessas invasões militares! Mas Lula é inteligente e faz forte propaganda sobre a “missão de paz” da ONU. Organiza inclusive um jogo amistoso da seleção brasileira contra a seleção haitiana no Haiti em Agosto de 2004. É chamado de “o jogo da paz”. O Brasil vence por 6 a 0.

Nós organizamos abaixo-assinados antes e depois do envio das tropas. Milhares de assinaturas dirigidas a Lula dizendo: “Não envie as tropas!”; “Retire as tropas!”. Mas o governo não deu bola. E não dará bola até que haja uma exigência das massas. Voltaremos a isso mais adiante.

A MINUSTAH (Missão das Nações Unidas pela Estabilização no Haiti) conta com a participação de tropas dos seguintes países:

[] Efetivos militares: Argentina, Benim, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Croácia, Equador, Espanha, França, Guatemala, Jordânia, Marrocos, Nepal, Paraguai, Peru, Filipinas, Sri Lanka, Estados Unidos e Uruguai.

Forças policiais: Argentina, Benin, Burkina Faso, Camarões, Canadá, Chade, Chile, China, Colômbia, Egito, El Salvador, França, Granada, Guiné, Jordânia, Madagascar, Mali, Maurícia, Nepal, Níger, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Romênia, Federação Russa, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Espanha, Togo, Turquia, Estados Unidos, Uruguai, Vanuatu e Yêmen.

Notem que além do Brasil, há tropas de outros países da América do Sul cujos presidentes foram levados à vitória eleitoral como expressão da luta por mudanças das massas trabalhadoras em seus países: Bolívia de Evo Morales, Chile de Bachelet, Paraguai de Lugo, Uruguai de Vasquez e Equador de Rafael Correa!

Todos cumprindo um papel asqueroso a mando do imperialismo, enviando tropas, usando recursos materiais e humanos para reprimir e assassinar o povo pobre e sofrido do Haiti. Além do cubano Fidel, apenas Chávez se posicionou contra a ocupação do Haiti. Mas não é pra menos, há uma revolução em curso na Venezuela!

No início a ONU anunciou uma missão de 6 meses. Depois foi prorrogada até que houvesse eleições. Depois de muitos adiamentos, houve eleições em 2006, mas Aristide – o presidente de fato eleito pelo povo, exilado na África do Sul – estava e permanece impedido de regressar ao Haiti! Préval acabou eleito novamente.

Agora já há presidente “eleito” – imposto. E as tropas continuam lá! A ONU argumenta que sem as tropas lá as gangues de narcotraficantes e seqüestradores afundariam o país no caos novamente. Mas isso é falso!

Fonte: PCB-online (parte de um artigo)


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Quando a periferia não vale nada

Acionistas da Thyssen Krupp tomaram conhecimento do que acontece na Siderúrgica de Santa Cruz


Publicado em 13.02.2011

Material enviado por email por Mônica Lima (UERJ)


Ekkehard Schulz - Presidente da Thyessen Krupp


Em 21 de janeiro de 2011 foi realizada uma Assembléia de Acionistas da Thyssen Krupp na cidade de Bochum na Alemanha, Christian Russau sabatinou o presidente da empresa perante os acionistas quanto à viabilidade da siderúrgica nos moldes que vem operando em solo Brasileiro.

Christian Russau é membro da KoBra Kooperation Brasilien, uma organização não governamental na Alemanha que faz parte de uma rede de solidariedade e intercambio de grupos sociais alemães com brasileiros. Christian tem apoiado a luta dos pescadores da Baia de Sepetiba contra a CSA desde 2008.

Inicialmente Christian faz um pequeno resumo do que tem acontecido durante esses primeiros meses de operação da siderúrgica, salienta a importância da questão ambiental e as sucessivas punições que estão sendo impostas à indústria, inclusive com uma possível pena de prisão para os dois diretores responsáveis, e provável fechamento de parte da planta ou da usina inteira caso não sejam corrigidas as falhas de operação.

Foram colocadas questões importantes que expuseram publicamente as relações estranhas entre a Thyssen Krupp e o INEA, quando perguntou sobre a doação que a empresa fez de dois milhões de euros para a renovação da sede da Agência de Meio Ambiente.

-" Como pode uma empresa controlada dar a seu controlador dois milhões de euros"? Perguntou Cristhian ao Presidente da Thyssen Krupp.

Outro ponto que mereceu destaque nesta assembléia, foi a resposta dada pelo presidente a uma pergunta feita por um acionista: - "Eu só vim, a saber, hoje que a planta no Brasil não tem licença de operação, podendo até ser fechada pelas autoridades ou dos tribunais. O Senhor pode explicar"?

Resposta de Ekkehard Schulz:

-"Nós não nos preocupamos com a possibilidade da planta ser fechada. Seria administrativa e economicamente insensato criar uma equipe extra para isto. Além disso, destacamos que a inauguração da planta contou com a presença do presidente Lula, e que todos nós temos recebido das autoridades a notícia de que nossos procedimentos estão corretos. Temos conversas boas e próximas com o governador, o prefeito e o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc"..

Leia na íntegra o documento que traduz a sabatina feita por Cristhian Russau

http://www.portalguaratiba.com.br/2011/imagens_noticias/1302_assembleia_thiessem.pdf

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Ainda é cedo pra comemorar plenamente.

FESTA NO EGITO: O povo derrotou a ditadura: Mubarak e o vice renunciam



No 18º dia de protestos, o chefe do regime ditatorial do Egito, Hosni Mubarak, declarou a renúncia ao cargo de presidente, após 30 anos de permanência no cargo. O anúncio foi feito pelo vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, que também apresentou sua renúncia.

O povo está em festa nas ruas do Cairo e em todo o país. As gigantescas manifestações populares abriram o caminho à democratização do país e mudanças sociais e políticas mais profundas.

O desfecho é uma derrota não só do ditador como também, e principalmente, do imperialismo estadunidense e de Israel, que até ontem clamava ao mundo por apoio a Mubarak.

Os Estados Unidos se comportaram feito barata tonta ao longo dos últimos dias, com sinalizações contraditórias, mas sem nunca colocar em questão o apoio ao ditador, um velho e fiel aliado do império e de Israel.

Renúncia surpreende

Os milhares de manifestantes que estavam reunidos na praça Tahrir, no centro da cidade do Cairo, comemoraram a decisão. Uma multidão foi às ruas de várias cidades do Egito no início da noite no país, para festejar a decisão.

A surpreendente renúncia do ditador, que na noite de quinta-feira em um discurso à nação assegurava que se manteria no cargo até as eleições de setembro próximo, ocorreu no momento em que se encontrava com sua família no balneário de Sharm El-Sheikh, na costa do Mar Vermelho.

Até a semana passada, a repressão policial às manifestações causou a morte de pelo menos 300 pessoas — segundo um relatório não confirmado da ONU — e milhares de feridos, de acordo com fontes oficiais e médicas do país.

Uma explosão de protestos nesta sexta-feira (11) em rejeição ao "fico" do chefe do regime aparentemente fez com que os militares agissem e forçassem a queda de Mubarak e de seu vice-presidente.

Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas ao longo do dia em várias cidades do país em protesto pela permanência de Mubarak na presidência. Manifestantes cercaram o palácio presidencial no Cairo e em Alexandria e cercaram também o edifício da TV estatal. Um governador de uma província do sul foi pbrigado a fugir diante das manifestações realizadas contra o poder vigente.

Este foi o dia das maiores manifestações do levante iniciado em 25 de janeiro, quando todos os setores da sociedade civil se uniram para ir às ruas em protesto contra a permanência de Mubarak.

"Diante das graves circunstâncias que o país atravessa, o presidente Mubarak decidiu deixar o cargo de presidente da república", anunciou em tom grave na TV estatal o ex vice-presidente Suleiman. "Ele designou as o Conselho Supremo das Forças Armadas para dirigir de agora em diante o Estado".

Fonte: Patria Latina- online

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Egito Livre


CARTA AO CONSULADO DO EGITO

Rio de Janeiro, 01 de fevereiro de 2011

Ao Consulado da República Árabe do Egito no Rio de Janeiro
Exma Senhora Cônsul Ministra Plenipotenciária Amany Mohamed Kamal El Etr

Muitos de nós brasileiros, signatários desta carta, estivemos nas trincheiras da luta contra a Ditadura Militar no Brasil, derrotada pela força do povo nas ruas. Por isso, somos capazes de entender com profundidade o sofrimento do povo egípcio que, há trinta anos, vem sendo submetido a um regime cruel que, na defesa de seus interesses mesquinhos e para atender às exigências da geopolítica dos Estados Unidos, seu patrocinador, não tem hesitado em prender e torturar seus opositores, desafiando, impunemente, as leis internacionais que tratam dos Direitos Humanos. E se assim o faz é porque tem a proteção, o apoio e a cumplicidade dos Estados Unidos que, em troca de uma substancial ajuda militar e da manutenção dos privilégios dos governantes corruptos e de uma elite insensível, impõe um regime ditatorial e violento que faz da miséria, da fome, do desemprego e do analfabetismo de grande parte da população, seus principais trunfos para manter-se no poder e assim perpetuar a dominação imperialista e sionista no Oriente Médio.

As manifestações de protesto dos egípcios e suas reivindicações têm a simpatia e a solidariedade de todas as pessoas de consciência no mundo. Eles têm todo o direito de se revoltarem e de exigir a saída do ditador, o fim de seu regime autoritário e o rompimento definitivo com os EUA e Israel, sem o qual nada muda, porque suportaram durante trinta anos o contínuo rebaixamento de seu nível de vida, sendo privados de seus direitos mais elementares, tudo em nome das poderosas potências estrangeiras que usurpam o petróleo do Oriente Médio e exercem seu poder político e militar sobre os povos árabes.

O povo egípcio, agora, está disposto a ir até o fim para encerrar de vez a era de arbítrio, e construir em seu lugar, um governo democrático que seja capaz de devolver a eles todos os seus direitos usurpados, que respeite sua autodeterminação e o seu direito de organizar seus partidos e sindicatos, construindo para este país uma nova era em que a liberdade seja a base e que a bandeira da solidariedade seja levantada toda vez que um povo estiver sendo oprimido.

Manifestamos o nosso mais profundo pesar às famílias daqueles que tombaram durante essa jornada de lutas e repudiamos essa atitude violenta do governo Mubarak que pretende, pela força das armas, silenciar os protestos, demonstrando que não tem o menor respeito pelo seu povo e reafirmamos o desejo do povo egípcio em romper com a interferência estrangeira em sua soberania.

Daqui do Brasil, nossas vozes ecoarão através de todos os meios possíveis para fortalecer o grito de liberdade do povo egípcio e esperamos que V. Ex.ª, como representante deste país no Brasil, faça chegar até o governo Mubarak a nossa mensagem.

Fonte: Secretaria Geral do PCB- www.pcb.org.br

domingo, 6 de fevereiro de 2011

50 Anos do Assassinato de Patrice Lumumba

Patrice Lumumba, um herói africano 05 Fevereiro 2011


Crédito: ODiario.info


Carlos Lopes Pereira*

Fez no passado dia 17 de Janeiro 50 anos que Patrice Lumumba foi assassinado. Com este texto do jornalista Carlos Lopes Pereira, odiario.info não só evoca o crime do colonialismo belga e do imperialismo norte-americano, como presta homenagem a “um herói da libertação africana cujo legado se mantém actual e inspira novas lutas pela emancipação social dos povos do continente e de todo Mundo.”

Faz agora meio século. Foi a 17 de Janeiro de 1961 que agentes do colonialismo belga e do imperialismo norte-americano, com a conivência de traidores congoleses, assassinaram de forma bárbara Patrice Lumumba, combatente da independência da sua terra e primeiro chefe do governo da República do Congo. Apesar de ter desaparecido há 50 anos, ainda muito jovem, a sua figura emerge hoje como a de um patriota íntegro e corajoso, de um lutador anticolonialista e anti-imperialista. Em África, na Ásia e na América Latina, diferentes gerações de revolucionários admiram-no, a par de Kwame Nkrumah, Amílcar Cabral, Agostinho Neto ou Samora Machel, como um herói da libertação africana cujo legado se mantém actual e inspira novas lutas pela emancipação social dos povos do continente e de todo Mundo.

A biografia de Patrice Lumumba pode ser resumida em poucas linhas. Nasceu em 2 de Julho de 1925, filho de camponeses pobres, na aldeia de Onalua, na província do Kasai, na então colónia do Congo Belga (mais tarde República do Congo, depois Zaire e hoje República Democrática do Congo). Fez os estudos primários numa escola missionária católica - a única possibilidade para muitos jovens africanos da época - e, na juventude, trabalhou como funcionário dos correios e empregado de algumas companhias belgas.

A partir dos 23 anos participou activamente na vida política da sua terra, então uma possessão belga, desenvolvendo os seus ideais independentistas e sofrendo com isso a repressão dos colonialistas belgas - esteve várias vezes preso. Foi sindicalista, escreveu em jornais como o «Uhuru» («Liberdade») e «Independance» e, em 1958, fundou e tornou-se líder do maior partido nacionalista congolês, o Movimento Nacional Congolês (MNC) - o único constituído em bases não tribais.

Em 1958-1959 assistiu, em Accra, capital do recém-independente Gana, de Nkrumah, à primeira conferência pan-africana dos povos - onde foi eleito para o seu secretariado permanente -, e em Ibadan, na Nigéria, a um seminário internacional sobre cultura, onde fez um discurso defendendo a unidade africana e a independência nacional.

No começo de 1960, em Bruxelas, participou na conferência belga-congolesa em que foi acordada, entre os nacionalistas congoleses e a potência colonial, a independência do Congo, imposta pela longa resistência popular e pelas reivindicações das forças nacionalistas.

Nas eleições parlamentares de Maio de 1960, o MNC e partidos que o apoiavam conquistaram a maioria dos votos. A 30 de Junho o Congo tornou-se independente e Patrice Lumumba foi nomeado primeiro-ministro do governo da república. O seu discurso nesse dia permanecerá nos anais da diplomacia mundial como uma peça oratória magnífica, em que o jovem dirigente africano, na presença do rei Balduíno, da Bélgica, e de outros dignitários estrangeiros, denunciou abertamente os crimes hediondos do colonialismo belga sobre o povo congolês e traçou as perspectivas do futuro Congo, liberto das grilhetas da dominação estrangeira.

Em Setembro desse ano Lumumba foi demitido pelo presidente Kasavubu, apoiado pelos Estados Unidos e por militares golpistas comandados por um certo coronel Mobutu. Em Novembro é preso e, a 17 de Janeiro de 1961, depois de meses de detenção ilegal, é barbaramente torturado e assassinado. Não tinha ainda completado 36 anos e idade.

—///—

Historiadores e jornalistas que investigaram as circunstâncias do assassinato de Patrice Lumumba convergem na descrição do que se passou nesse deplorável 17 de Janeiro de 1961.

De manhã, a polícia política mobutista foi buscar Lumumba à prisão de Thysville e meteu-o num avião, com mais dois companheiros, Mpolo e Okito, enviando-os para a capital do Katanga «independente». Durante a viagem para Elizabethville (depois Lubumbashi), os presos sofreram agressões selváticas e, chegados ao aeroporto, foram recebidos por militares secessionistas catangueses e mercenários belgas. Atirados para dentro de um jipe e levados para uma quinta próxima, foram fuzilados nessa noite por um pelotão comandado por um oficial belga. Os seus verdugos fizeram desaparecer os corpos de Lumumba e seus dois companheiros.

Mais tarde, uma comissão das Nações Unidas encarregada de investigar o assassinato do jovem líder congolês responsabilizou pelo crime a administração de Léopoldville chefiada pelo então presidente Kasavubu e onde pontificava já Mobutu; as autoridades do Katanga; responsáveis da empresa belga Union Minière du Haut Katanga; e um grupo de mercenários ao serviço de Tchombé, líder dos secessionistas catangueses.

É conhecido também que uma outra comissão, esta do Senado dos Estados Unidos, que em meados dos anos Setenta do século passado investigou as actividades dos serviços de «intelligence» norte-americanos, descobriu que a CIA organizou em Agosto de 1960 - o Congo era independente há apenas dois meses! - uma conspiração com o «objectivo urgente e prioritário» de assassinar o primeiro-ministro congolês. Para Allen Dulles, o então director dos serviços secretos norte-americanos, Patrice Lumumba era «um perigo grave» que os Estados Unidos tiveram que eliminar.

—///—

O afastamento de Lumumba da chefia do governo, a sua prisão e o seu assassinato foram o resultado conjugado dos interesses do colonialismo belga - que, apesar da independência do Congo, continuou a pretender explorar a seu bel-prazer as riquezas do país - e da intervenção do imperialismo norte-americano, através da CIA - o jovem primeiro-ministro era considerado por Washington um «esquerdista», simpatizante da União Soviética -, coniventes com as Nações Unidas e com sectores da burguesia congolesa que não hesitaram em trair o seu povo e aliar-se à dominação estrangeira.

Um factor decisivo da tragédia congolesa foi a secessão do Katanga, província congolesa rica em minérios, que Moisés Tchombé proclamou independente do Congo, financiado pela companhia Union Minière e com apoio de soldados belgas e de mercenários. O presidente Kasavubu e o primeiro-ministro Lumumba apelaram à intervenção das Nações Unidas, que enviou uma pequena força para o país, sem conseguir evitar a guerra civil, que se prolongou até 1964. No ano seguinte, neste contexto de prolongada conflitualidade, Mobutu assumiu a liderança do país, rebaptizado como Zaire, e implantou uma ditadura sangrenta, reinando despoticamente até 1997, como um fantoche dos Estados Unidos e das potências ocidentais.

—///—

Já preso pela soldadesca golpista e antes de ser entregue aos secessionistas catangueses e mercenários estrangeiros que o haviam de assassinar poucos dias depois, Lumumba escreveu uma carta de despedida a sua mulher Pauline, em que reafirma a sua confiança no futuro. São belas e comoventes, mas cheias de esperança, essas breves palavras, publicadas mais tarde pela revista «Jeune Afrique»:

«(…) Não estamos sós. A África, a Ásia e os povos livres e libertados de todos os cantos do mundo estarão sempre ao lado dos milhões de congoleses que não abandonarão a luta senão no dia em que não houver mais colonizadores e seus mercenários no nosso país. Aos meus filhos, a quem talvez não verei mais, quero dizer-lhes que o futuro do Congo é belo e que o país espera deles, como eu espero de cada congolês, que cumpram o objectivo sagrado da reconstrução da nossa independência e da nossa soberania, porque sem justiça não há dignidade e sem independência não há homens livres.

Nem as brutalidades, nem as sevícias, nem as torturas me obrigaram alguma vez a pedir clemência, porque prefiro morrer de cabeça erguida, com fé inquebrantável e confiança profunda no destino do meu país, do que viver na submissão e no desprezo pelos princípios sagrados. A História dirá um dia a sua palavra; não a história que é ensinada nas Nações Unidas, em Washington, Paris ou Bruxelas, mas a que será ensinada nos países libertados do colonialismo e dos seus fantoches. A África escreverá a sua própria história e ela será, no Norte e no Sul do Sahara, uma história de glória e dignidade.

Não chores por mim, minha companheira, eu sei que o meu país, que sofre tanto, saberá defender a sua independência e a sua liberdade.

Viva o Congo! Viva a África!».

Para os revolucionários do século XXI em África e em todo o mundo, que hoje continuam a lutar em condições diferenciadas contra a dominação imperialista e a exploração capitalista, Patrice Lumumba continua bem presente com o seu exemplo de patriota e combatente pela liberdade. E são de uma enorme actualidade as ideias que defendeu generosamente e pelas quais deu a vida - a urgência da independência nacional e da genuína soberania para todos os países, a unidade africana, a luta intransigente contra o colonialismo e o neocolonialismo, o combate pela emancipação social dos povos.


Este texto foi publicado no Avante nº 1.938 de 20 de Janeiro de 2011.

Pequenos colombianos, vitimas

Pequenos colombianos, vitimas
O Mercado, não vê indigência

Seguidores